domingo, 26 de outubro de 2008

Sentidos Perdidos II


Chegou na garagem e achou estranho o carro pegar sem que ela antes ouvisse o barulho do motor.

-Seu Caetano! Abre o portão para mim!

O porteiro não abria, assim como ela não ouvira sua voz o chamar. Falou mais alto:

- SEU CAETANO, O PORTÃO!

-Calma, dona! Já vai!

Ela o viu murmurando alguma coisa e em seguida, o portão se abriu. Engraçado não ter ouvido seus berros e nem mesmo o que ele dissera - da próxima vez deixaria o vidro aberto.

Ligou o rádio, e antes mesmo de perceber qual música estava tocando, começou a cantar. Pelo menos isso pensava que estava fazendo. Não ouvia nada. Nem música, nem voz. Sabia estar ligada na estação. Sabia estar gesticulando. Sua voz não saía. Os sons não saiam.

Ou ela não ouvia.

Entrou em desespero. Começou a berrar, a buzinar... Parou o trânsito da esquina de sua casa. Pessoas se aproximaram, todas mexendo os lábios, mas não soltando vozes.

Silêncio absoluto.

Devia ter sido algum feitiço do Seu Caetano. Ela tinha certeza que ele devia estar com ciúmes de seus brincos cor de âmbar ao entardecer.

4 comentários:

Clara disse...

ensaio sobre a surdez?

Victor disse...

Me lembrou aquele conto do Sagarana que o cara fica cego por causa do boneco de vodu!

Talvez ela devesse voltar e procurar um boneco dela...

Teresa Perosa disse...

pensei o mesmo que clarinha

Felipe Lobo disse...

Cegueira, surdez... Qual será o próximo? Paladar? Olfato? Aguedamos cenas do próximo capítulo.