domingo, 12 de outubro de 2008

Festa de Aniversário


Correria, gritaria, bexigas e presentes. Enfeites de mesa, monitores com macacões amarelos.

Ilarilariê. Quer dizer, isso era na minha época. Agora é Hanna Montana, High School Musical... até Fergie, você escuta em festinhas infantis.

Coxinha, empadinha, risoli frio. Coca-cola, fanta laranja, sprite. Prato, copo, garfo e faca de plástico. Altíssima qualidade.

Conversas aqui, acolá. Parentada.

- Você é a jovem, e eu sou a mais velha. Só nós duas não temos com quem conversar!

Conversamos.

Entra-e-sai de crianças, uma tropeça, a outra chora, todas riem.

Mais uma família convidada chegando:

- Como ela cresceu!

Cumprimentos mil. E o frio?

- Ai, acho melhor a gente fechar essa porta, viu. Essa friagem vai deixar todos resfriados...

- Sabe que semana passada todo mundo ficou mal, lá em casa.

- É, menina...

- Filho! Você está todo suado! Coloca esse casaco.

- Mas eu estou com calor, estou até suado! Você mesma disse...

- Mas se você sair agora, vai levar um choque térmico!

- Eu estava lá fora até agora!

- Vai colocar ou não vai?

- Não. Acho que já é hora do parabéns, olha.

Movimento no salão de festa do prédio garantiu o que supôs o menino. Era a hora dos parabéns. Todos em volta da mesa, em suas devidas posições.

Ela já estava em frente ao bolo, mirando a vela de número 9.

- Começamos?

- Falta o papai...

- ... eu estou procurando a câmera! - respondeu uma voz distante.

Gritaria. Todos ansiosos pelo bolo. A troca momentânea de papel: agora as atenções não se voltavam à filha. Eram todas para o pai. Mudança de protagonista.

- Deixa a câmera, olha só, a Joana está com uma, depois ela passa as fotos pra gente!

Teimoso, ou gostando de ouvir seu nome sendo chamado pelo salão, ele insistia em querer achar a câmera.

- Vai, pai, a vela vai apagar! - e com ela, apagariam as esperanças de poder fazer um pedido.

Pronto. Chegou. Acomodou-se ao lado da filha, deu um beijinho e o aval: "Parabéns para você..."

Por um momento, todos estavam envoltos na mesma melodia.

"... Nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida"

A menina, extasiada. Não sabia se batia palma. Sorria. Todos estavam ali para ela. Uma vez por ano estariam todos batendo palmas. Para ela.

"...Tudo! E como é que é?! É pique, é pique. É pique, é pique, é pique. É hora, é hora. É hora, é hora, é hora. Rá-tim-bum!"

Soprou as velas. Fez os pedidos. Saiu nas fotos.

No entanto, a cantoria não terminou: "Com quem será, com quem será, com quem será que..."

Ruborizou-se. Escondeu atrás da mãe, como se a grande protetora pudesse abaixar o volume das palavras e fazer com que todos se calassem.

"... Ele aceitou, ele aceitou, tiveram dois filhinhos e depois se separou."

Fechou o rosto. Separou?

Poxa. Se não bastasse a afirmação um tanto quanto prematura (convenhamos, foi-se a época em que com 9 anos seu casamento já estava predestinado!), ainda vinha essa de incluir o divórcio na musiquinha?!

Isso sim que é desanimador.

Ou não, isso são os tempos de hoje. A atual conjuntura. Um reflexo da modernidade. A contemporaneidade.

Talvez a separação veio justamente para se contrapor a certeza do nome do menino com quem ela se casaria.

Cortou o primeiro pedaço.

"Na lua-de-mel, na lua-de-mel, tiveram dois filhinhos chamados Manuel..."

Como se não bastasse casamento-relâmpago, ainda na canção existem as mães-solteiras ou as luas-de-mel fora de hora.

Na difícil missão de conciliar o casamento com a viagem, adia-se. No caso, adiaram-se, no mínimo, 9 meses, já que nela nasceu os filhinhos Manuéis.

E aí eu me pergunto: os dois se chamavam Manuel?

Seria uma forma de demonstrar a massificação ou a dominação dos portugueses em terras brasileiras? Ah, nenhum dos dois.

"Lá no restaurante, lá no restaurante, tiveram dois filhinhos chamados Elefante!"

Pronto. Esse foi demais. No restaurante?! As crianças nasceram no restaurante e, além do mais, foram chamadas de "Elefante"!

Animal. Se elas ainda tivessem nascido no zoológico, o nome seria mais compreensível (por mais que eu continue não entendendo esses tipos de nome).

- Esse é seu, Alice! Quer?

Acho que seria melhor aceitar. Depois de perceber a música que me acompanhou em inúmeros aniversários e que continua a acompanhar todas as crianças no dia em que o dia é só delas, exclusivamente delas, o melhor que eu tinha a fazer era comer o bolo.

Aceita um pedaço?

Um comentário:

Ana Paula Saltão disse...

ou, em Campo Grande não tinha Manuéis nem Elefantes: era passou um mês, passou um mês, passou um mês e voltaram outra vez! ^^

Depois passa um ano e eles entram pelo cano, passo um séculos e eles morrem diabéticos.. Mas podemos deixar essa parte embaixo do tapete, ou do bolo! ;)