domingo, 4 de dezembro de 2011

Roteiros: Barri Gotic

Ao lado esquerdo das Ramblas está o Barri Gotic, o bairro mais antigo de Barcelona, onde é possível caminhar pelas ruazinhas super estreitas e encontrar um monte de achados pelas lojinhas. 

Observe os detalhes das casas super antigas, as bandeiras catalãs penduradas nas janelas, o chão de pedra. 



Detalhe de muro no Bairro Gótico
A grande pedida do lugar é se perder: não adianta tentar se guiar por mapas porque em poucos deles constam todas as ruelas da antiga área onde tudo começou.

É possível chegar ao bairro gótico 
a partir da Plaça Catalunya e evitando a famosa rua dos "artistas e flores". O jeito é descer pela Carrer Portal de l'Ángel (o shopping a céu aberto). Assim, você estará a poucos passos da Catedral de Barcelona - super central.

Interior da Catedral de Barcelona
Em alguns horários a entrada é gratuita. Vale a pena visitá-la. Meninas, não se esqueçam de se cobrir - caso contrário vocês serão barradas educadamente pelo guardinha e o jeito será ficar sentada ao pé da escada, ouvindo algum músico de rua tocando violão (o que também não é mal pedida, btw). 

Adentrando pelo Barri Gotic, é capaz que você encontre a
 praça Sant Felip Neri. Tranquila - caso não seja horário de saída ou entrada das crianças no colégio que tem ali - ela pode até ser chamada de um "reduto de paz" naquele bairro: o que contrasta claramente com o seu passado.

Horário de saída da escola, na Plaça Sant Felip Neri. Ao fundo, muro com marcas de fuzil
Repare nos muros ao seu redor: eles contém marcas de balas. Contra aquelas paredes, muitas pessoas foram fuziladas durante a Guerra Civil. É tenso, muito tenso. Observar o muro é como ver um pedaço da História passando pela sua cabeça. 

A Plaça del Rei também fica por ali. Em uma
das casas que a circundam, há um bar. Ele fica no segundo andar, subindo a escada estreita. E é fantástico. Para quem gosta de jazz, vale a pena conhecê-lo. É o Pipa Social Club

Caminhar pelo Barri Gotic também é encontrar as ruínas romanas. É tomar um chocolate quente na rua Petritxol. É acompanhar rodas de sardana, a dança típica catalã, na Plaça Sant Jaume. 



Plaça Sant Jaume, durante Dia de Santa Eulália, a padroeira da cidade
É tirar fotos na Carrer del Bispe. É ouvir músicos tocando, perdidos entre as vielas. É descobrir a fase jovem do Picasso, no museu de mesmo nome. É ver como você está pisando na História, no Museu de Historia de Barcelona

É deparar-se com o passado, em eterno contraste com o presente.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Roteiros: Plaça Catalunya, Portal de l'Ángel e Las Ramblas

Descendo mais um pouco, desde o Passeig de Gracia, você chegará na Plaça Catalunya, o coração de Barcelona.

A Praça foi o centro de protestos durante a AcampadaBCN, movimento que uniu milhares de jovens na Espanha  a favor de uma democracia decente - algo que já vinha se espalhando pela Europa.

Reunião em um domingo durante a AcampadaBCN
Para saber mais sobre as reinvindicações e os protestos do pessoal acampado, clique aqui. Na época, fiz um post relatando alguns acontecimento, leia aqui.


"Árvore dos Desejos"
O local é ponto de partida para muitas passeatas, mas também, muitos passeios turísticos. Isso porque ele une avenidas importantes como a já citada Passeig de Gràcia (onde estão as Casas Milà e a Batló, de Gaudí), a Portal de'l Ángel e a famosa Ramblas.

El Corte Inglés, na Plaça Catalunya
Vamos começar pelo Carrer Portal de l'Angel. Ele é uma rua cheia de lojas, para ser mais exata, um verdadeiro shopping a céu aberto.

File:Portal de l'Àngel - Barcelona (Catalunya).jpg
Carrer Portal de l'Ángel
Lá você encontrará marcas conhecidas, como a espanhola Zara, a H&M, a catalã Mango, a Pimkie, a Bershka, a Stradivarius e a Pull & Bear. Estas últimas são mais voltadas para o público jovem feminino.

Loja H&M do Portal de l'Ángel
Além de se esbaldar nas roupas - principalmente caso seja época de "rebaixas", as promoções - é possível encontrar livros com bons preços na Happy Books e balinhas divertidas na Happy Pills (uma pequena lojinha colorida que fica cheia de turistas afoitos por doces "remedinhos").

Paralela ao Portal de l'Ángel, você encontrará as Ramblas. Quem nunca viu uma foto dessa rua que atire a primeira pedra. O quê? Você nunca viu? Tá aí:

Las Rambras
Ela era famosa por seus quiosques de flores, que colorem o ambiente durante a primavera. Hoje, ficou conhecida pelos artistas de rua - principalmente os homens-estátua que divertem (ou até assustam) os passantes. (Não podemos deixar de fora os inúmero vendedores ambulantes...).

File:Barcelona - Rambla 3.jpg
Homem assustador nas Ramblas
Não tem como fugir das Ramblas, mas ela fica insuportável no verão. Ainda assim, é um must de Barcelona e pega mal não passar por ela - mesmo porque... É uma façanha quase impossível.

domingo, 13 de novembro de 2011

Roteiros: Passeig de Gràcia

Vista do Paseig de Gràcia a partir da Casa Batló
Este caminho é sucesso e a mais pura sofisticação. A Oscar Freire não chega nem perto do glamour do Passeig de Gràcia. Marcas de todo o mundo disputam um lugarzinho nesta avenida arborizada, que une os bairros Gràcia e Eixample ao coração de Barcelona: a Praça Catalunya. Sem contar que, só para não perder o costume, prédios modernistas estampam o local, que engloba mais duas obras dele: Gaudí.

Se tiver pique, a dica é ir a partir do Parc Güell, descendo pela Gran de Gràcia e seguindo desde o começo do Passeig. Preste atenção nas varandas encantadoras dos edifícios, nos modelitos fashion das barceloninas que desfilam por ali, e fique preparado: quando perceber uma aglomeração na calçada, olhe para cima que algum edifício do famoso arquiteto lhe esperará.

La Pedrera

A Casa Milá (ou La Pedrera) fica à mão esquerda, se você estiver descendo. Entrar nela sai 14 euros, mas você terá o privilégio de conhecer uma das coberturas mais famosas da cidade. Preste atenção no tamanho das portas principais: por elas passavam cavalos e carruagens.

La Pedrera

Casa Batló
Continue o caminho e atravesse a rua, para atingir o "quarteirao da discórdia", onde estão maaais turistas e alguns prédios famosos, inclusive a Casa Batló (não vou dizer quem a desenhou para não ficar repetitivo).


Detalhe do telhado da Casa Batló
Se quiser entrar, terá que desembolsar mais 18,15 euros. Pelo menos o audio-guia já está incluído no preço e dá para se divertir com as descrições feitas por ele. Conte a quantidade de adjetivos que a mulher (ou o homem, dependendo do idioma) fala. Juro, é bizarro.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Roteiros: Parc Güell

Entrada do Parc Güell em um dia ensolarado: prepare-se para a multidão
Para conhecer bem as características de Gaudí, basta visitar o Parc Güell. Nele, você terá um resumo de tudo o que é significativo para as obras deste arquiteto. Verá formas orgânicas, materiais reutilizados, referências ao catalanismo, ao catoliscismo e até à mitologia.

A melhor parada de metrô é a Lesseps, onde eu morava. De lá, você tem que pegar a Traversera de Dalt (fica na diagonal superior, cruzando a praça a partir da saída) e andar sempre na mão esquerda. Siga as plaquinhas, suba umas escadas rolantes e tcharan! Em 10 minutos, chegará ao tão falado Parc Güell.

É uma loucura de mosaicos, formas e cores - e de turistas também, porque ele (adivinhe!) está SEMPRE LOTADO. Como é a única obra de Gaudí que se pode entrar sem pagar, já viu, né? Dê uma explorada pelo parque, vale a pena. E se conseguir acertar na trilha e chegar até uma Cruz, terá uma vista 360º incrível de Barcelona.

Detalhe das xícaras
Durante o passeio, é possível perceber diversas características de Gaudí que se repetem em seus monumentos. Uma delas é a reutilização de objetos, como vidros e azulejos. No topo de uma das torres do parque, repare que foram usadas xícaras (foto acima). Já a orelha do tão famoso lagarto* não passa de um fundo de garrafa:

Símbolo de Barcelona

O uso de pedras sobre pedras, sem cimento, demonstra o imenso cuidado do arquiteto durante seu projeto. Tudo é meticulosamente calculado, e os detalhes surpreendem.

Pedra sobre pedra e... Tcharán! Uma mulher.
Originalmente, o parque seria um condomínio com inúmeras casas, já que a região alta e repleta de verde possibilitaria o ar mais puro de Barcelona para os ricos moradores. No entanto, o projeto encomendado pelo industrial Eusébi Güell, não saiu do papel: e apenas duas foram finalizadas. Em uma delas, Gaudí viveu por 20 anos:

Casa do Gaudí

Simples, ela demonstra o acetismo e o lado devoto de Gaudí. É possível visitá-la pagando 5,5 euros (a inteira) ou 4,5 euros, para estudantes. Dentro, você não verá um mobiliário e objetos rebuscados. Somente o essencial.
--
*Por ser outro símbolo de Barcelona, reproduzido em forma de imãs e chaveiros, ele é motivo de luta entre os visitantes do parque. Todos anseiam uma foto com o animal, que teve que ser restaurado do ano passado, segundo uma amiga catalã.

[O mosaico do fundo do blog é um detalhe de lá]

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Roteiros: Avenida Gaudí e Sagrada Família

Sagrada Família a partir da Avenida Gaudí
Desça no metrô Sant Pau/Dos de Maig (linha azul), e caminhe pela Avinguda Gaudi, uma espécie de "Ramblas", só que de bairro. Ao fundo, você verá, nada menos que a (oh!) Sagrada Família, o símbolo mais conhecido (e reproduzido) da cidade. Se quiser, pare em um dos cafés que há por ali e peça uma "horchata", bebida típica feita com um tubérculo chamado chufa.

Como não é um caminho tão seguido pelos turistas (que descem direto na estação Sagrada Familia, também da linha azul), os preços não são tão exorbitantes e o clima é mais genuíno. Claro que quanto mais perto você estiver do monumento, mais caras as coisas vão ficando - e mais branquelos com câmeras penduradas no pescoço vão surgindo.

É incrível ver como a obra do Gaudí vai aumentando aos seus olhos a medida que você se aproxima dela, e o quão grande ela se torna. Vale a pena visitar o interior (cujo teto foi fechado recentemente), mas cuidado com as filas, que são absurdas. Se não tiver tempo mesmo, esqueça. Só de ver por fora você já se encherá de beleza - e de informações.

[Vou começar uma série de posts feitos sobre Barcelona. Vão ser dicas de roteiros, bares, e assim por diante. Espero que sirva para algum sortudo que esteja com viagem marcada para aquelas terras!]

Ponto de vista

Em uma ruazinha de uma pequena cidade da Itália, um menino para subitamente ao ver dois cachorros brigando:

- Olha, olha! Parecem dois gladiadores!

[Afinal, tudo não passa de uma questão de ponto de vista...]

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Les Borges Blanques

A cidade é bem pequena. Nem é uma cidade, para falar a verdade (rimei, desculpa, foi sem querer e eu sei que isso não é hora de rimar - se é que existe hora para rimar). É uma cidadezinha perdida em meio a oliveiras, vinhedos e pés de frutas.

- Caraca, você sabia que eles tem um azeite super bom?

Me perguntaram. Sei. Desde que nasci ouço isso do meu avô. "O melhor azeite do mundo". Já tive uma discussão ferrenha com uma amiga italiana que dizia que os melhores azeites vinham da bota - e da Grécia. É melhor porque você acha que é melhor. Mas tudo é relativo... Ela também dizia que o melhor café, o melhor macarrão e a melhor pizza... Tudo vinha da Itália. Eles têm essa mania, mas nós, paulistanos, sabemos que nessa última, ganhamos. E como sabemos!

Se bem que eu não gosto muito de achar que o melhor-do-mundo é meu, não. Afinal, é melhor por estar acostumada a isso. Mas o melhor pode ser o outro. Ai, é tão bom saber que o outro pode ser melhor. Sabe essa história de não ter a responsabilidade? Às vezes dá um alívio...

Voltando à cidadezinha. Uma praça: Terrall. Ah, o Terrall. Quantas vezes não ouvi esse nome. É um lugar bem normal, para falar a verdade: com patos nos lagos e velhos nos bancos. E como há velhos! Acho que o homem mais rico da cidade é o fazedor-de-bengalas. Só o irmão do meu avô anda com duas...

Além dos azeites, têm as azeitonas. Afinal, se são elas as responsáveis pelo tal-do-óleo, nada mais justo terem seu momento de fama. E além dos azeites e das azeitonas, que estão na mesa, tem toda a familiarada em volta dela. E quantos são! Variam de 93 anos aos 3 meses de idade. Essa é a faixa etária. Parece até mentira quando digo. A mais novinha, gorducha, nem imagina o que-fala-essa-gente. E como falam... Falam das suas buchechas, Margot!

De repente, o relógio começa a tocar. É uma hora qualquer: nem inteira, nem quarto. "Ele está aposentado, faz o que quer, na hora que quer. É por isso que eu gosto dele". Aposentado e centenário. Quantos já não ouviram o toque desse relógio. Quantas vezes ele já bateu.

Tem também os remédios. Cada parente vem com um diferente. Rimei de novo, droga, foi sem querer. O da vez é um efervescente (outra vez?), que está borbulhando sobre a mesa. Tenho a sensação de que as coisas aqui são vivas. As almofadas com bordado de rosas principalmente. E o tapete marrom com círculos de décadas passadas. Eu sei que eles têm história para contar.

Assim como o Josep, que repetia a de uma das suas netas: "Ela é pesquisadora e com 30 anos decidiu que não se casaria. Viaja, faz conferências, sabe línguas. E é feliz.". Seja feliz, me disseram várias vezes. "Sé ama de la teva vida i, sobretot, sigui humana". Ixi, meio que rimou.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Polvorosa

O metrô estava lotado. Lotado de apenas duas cores: azul e vermelho. Espremidos, os torcedores não viam a hora de chegar à estação onde uma grande tela os esperava : Arc de Triomf. O nome do local não poderia ser mais condizente com a certeza que tinham sobre o jogo: eles triunfariam.

- Barça! Barça! Barça! - Tumulto em uma das portas do vagão. Em alguns segundos, entraram, gritaram e saíram. Mais um furto. Era a segunda vez em um dia que presenciava aquilo. Da outra vez, largaram a carteira vazia da vítima – um homem mais velho, com rosto vermelho de sol e chapéu na cabeça – no chão. Se não fosse um rapaz a devolvê-la, o turista estereotipado nem teria reparado.

Alguns metros acima, pessoas estavam aflitas com o que seria da suposta comemoração do time, horas depois. Sexta-feira já não tinha sido um dia fácil. Acordaram com policiais tentando desalojá-los com uma suposta “limpeza” da praça onde estavam acampados há dias. “É para tirar objetos perigosos para que não haja nenhum problema amanhã, quando o formos campeões”, diziam os homens munidos de cassetetes.

Uma limpeza regada a balas de borracha e violência. 120 feridos e a desordem trazida por aqueles que, teoricamente, buscavam a ordem. Se antes estavam todos organizados, separados em Comissões, com comida, remédios, computadores e tudo o que fosse necessário; agora o que se via era uma bagunça. Mas bastou que a polícia se retirasse para que ela fosse superada pela organização daquele pessoal que há dias estava acampado no coração de Barcelona.

Milhares de pessoas já estavam guardando seu lugar para assistir ao espetáculo futebolístico. Voltadas para o dito arco, conversavam, gritavam e bebiam. Sangria para cá, sangria para lá – mas sempre em garrafas de plástico (porque é proibido beber na rua com vidro).

Enquanto isso, em quantidade menor, mas em importância maior, centenas de pessoas discutiam sobre o espetáculo que havia se tornado a democracia. Em rodas, conversavam, cantavam, procuravam soluções para esse mundo que está cada vez mais de cabeça para baixo. Ok, também rolava uma cervejinha aqui e uma cervejinha ali. Os “paquis”, vendedores ambulantes, rondavam o local aproveitando a concentração para conseguirem mais um trocado.

De repente, alguém puxava um dos gritos do time. Todos seguiam. Uma câmera pairava sobre a multidão, movendo-se de um lado ao outro. Era impressionante como todos se exaltavam ao serem vistos por ela. O jogo começou.

15 minutos depois, todos continuavam aflitos. Já na Praça Catalunya, pontualmente às 21h, começava mais um panelaço. Pessoas tiravam suas panelas, caixas de metal, tuppewares, chaves ou o que quer que fosse para protestar. Palmas. Quem não tinha colher e frigideira usava as mãos – e só – para fazer barulho. Adiantava.

Gol. Chuva de vinho/cerveja/coisas não identificadas, palmas, vuvuzelas, buzinas. Cabelos e roupas encharcadas. Gol do Manchester. Silêncio. Gol. Gol. Vitória. Agora era a hora. A multidão preparava-se para ir em direção à Praça Catalunya, para comemorar na tradicional Fonte das Canaletas, que se encontra ali perto. Loucura. Desorganização.

Um bando eufórico, com bandeiras e hinos, se dirigia ao local. Expectativa. No dia anterior, após a fatídica manhã, alguém propôs em uma das assembléias para que o acampamento fosse deslocado à Plaça Sant Jaume, onde se encontram a Generalitat e o Ayuntamento, evitando assim os conflitos que trariam os torcedores. “Se continuarmos aqui, a polícia usará como desculpa o tumulto provocado por eles e tentará nos tirar daqui outra vez!”. A proposta foi bem-vinda, mas não executada. Eles resistiam ali. E esperavam o que seria.

Um helicóptero insistia em observar toda a movimentação. Mais uma vez, explosões. Agora, no entanto, não vinham dos tiros dos policiais. Vinham dos torcedores. A polícia estava presente. Enquanto fanáticos gritavam, bebiam, soltavam fogos; acampados faziam um cordão humano em volta da praça. “No violencia”, era o pedido geral que se lia em folhas sulfites seguradas por todos. Estavam sérios.

“Não vão entrar para dentro da praça, não tem como nos tirarem”, insistia em dizer uma menina, que estava sentada bem no centro da "acampada". A quantidade de pessoas apoiando o movimento parecia até maior. Os que não estavam ao redor da Plaça com seus cartazes, estavam sentados, conversando calmamente. Alguns dormiam – mesmo com os constantes ruídos das explosões. O cansaço era presente, assim como a certeza de que a luta tinha que continuar.

Mais de 130 feridos. Dessa vez, não eram os manifestantes: mas os próprios torcedores. Essa foi a quantidade de pessoas envolvidas em acidentes durante a comemoração da vitória da Champions League. O acampamento? Continuava ali. Firme e forte. Sem feridos. Resistindo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Velha no metrô

Abriu a revista sobre viagens. Estava amassada, provavelmente a levava em todos os lugares - se é que fosse para muitos. Na capa, uma foto de Praga.

Suas mãos trêmulas e cheias de manchas passavam página por página, com uma estranha voracidade. Seus olhos mareados e cheios de rugas denunciavam a tristeza das viagens que nunca fez.

Devia ter mais de 80 anos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ares de Barcelona III - Lyon

Desta vez, o vídeo vem diretamente da França. Passei dias incríveis em Lyon, com direito à companhía de amigas queridas, a conversas de madrugada, a muita comida boa (strogonoff e feijoada, pode acreditar!) e a muita felicidade. A cidade em si não é muito turística, mas uma coisa nela chama a atenção: os "traboules".

Eles são atalhos escondidos entre as casas, que serviram como ponto de encontros clandestinos durante revoltas populares no século XIX e também como esconderijos. Existem mais de 500, mas apenas 40 estão atualmente abertos ao público. Com a ajuda da minha guia Mi, encontrei alguns deles...

Ares de Barcelona - visita de hoje: Lyon from alice agnelli on Vimeo.



[Ok, agora é oficial. A maioria dos vídeos não é de Barcelona, apesar do título que dei à série. Coisas da vida..]

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lyon


Rabiscos feitos em Lyon, com canetinhas compradas
lá mesmo por 60 centavos (e no pacote vinham 18!)

quinta-feira, 31 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - III

o modo erasmus de ser

Você quer fazer um intercâmbio, viajar para uma cidade onde tenha muitas baladas e jovens de todo mundo. Onde? Barcelona. Não sabe falar catalão? Não é problema. Não sabe falar espanhol? Não se preocupe. Aqui todo mundo se entende. E quanto às aulas, algumas até são em inglês, olha só! (Isso se você se preocupa com elas, afinal, para que perder seu tempo em uma sala se você pode ir a uma superdisco à beira-mar?)

Barcelona é um dos destinos prediletos para os Erasmus, principalmente porque não é preciso conhecer a língua para vir para a Espanha. Sendo assim, a cidade fica cheia de intercambistas. Cheia mesmo. E muitos aproveitam a oportunidade só para festejar, curtir.... É um semestre sabático. Esse é o estereótipo erasmus: o aluno que não quer nem saber da cultura, da língua ou das aulas. O importante são as festas, as bebidas e as pessoas. E por mais que pareça um exagero, ele é real.

Aí o que acontece? Eles, os Erasmus, acabam se fechando em grupos - a maioria se matricula nas mesmas matérias e vão sempre às mesmas festas. Sotavento, Shoko e Opium são algumas baladas que se você não falar inglês, amigo, está por fora. Com isso forma-se uma bolha, onde o idioma comum é inglês e as festas são sempre próximas ao Paseo Marítim. Mas é uma bolha que dá para ser rompida... Afinal, existem sempre as exceções às regras. Santas exceções!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ares de Barcelona II - Fallas de Valencia

Eu mal tinha chegado em Barcelona quando fui surpreendida pela pergunta: "você vai para as Fallas de Valencia?". Superfamosa (mas que eu nunca tinha ouvido falar, confesso), é uma festa típica da Comunidad Valenciana que acontece em março. Basicamente, é quando se espalham pelas ruas da cidade diversas esculturas gigantes de bonecos que satirizam temas atuais. No último dia da festa (no caso, 19/03), ateia-se fogo a eles - é a chamada "cremà de las fallas". O espetáculo é incrível. E como se não faltasse a queima, soltam-se fogos de artifício.

Fui com um grupo de amigos no sábado e ficamos até domingo. Novamente, o som da passagem não está muito bom (afinal, estou gravando com minha câmera fotográfica e.. Bem, era uma externa no meio da multidão. Dá pra entender, né?). As fotos da abertura foram feitas pela Eva, que é da República Tcheca, e pelo Michal, da Polônia. Quem está me filmando é a Anais, mon ami français.

Ares de Barcelona - visita de hoje: Fallas de Valencia from alice agnelli on Vimeo.

sábado, 19 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - II

a diferença entre os cursos

Estou fazendo aulas de economia e de sociologia. É incrível a diferença entre os alunos, os professores e também a forma de avaliação das matérias. Eu sei que isso também acontece no Brasil (tanto que dá para identificar de longe um feano e alguém da FFLCH), mas foi engraçado confirmar que, não importa aonde você esteja, grande parte dos estudantes de economia quando questionados sobre o "porquê-de-fazer-esse-curso", têm como resposta "para ter emprego/para ganhar dinheiro...". Isso quando têm uma resposta. Ai ai...

Quanto às aulas também são bastante diferentes. Enquanto as de economia são praticamente expositivas, as de sociologia sempre têm debates e mais debates. Se nas primeiras, os professores tratam os alunos como "mais um", nas outras - também por serem em menor quantidade - eles são chamados pelos nomes. Já a quantidade de trabalho é inversa. Ela é bem maior nas de sociologia do que nas de economia - que só tem uma prova no final do semestre (mas vai saber como será...).

terça-feira, 15 de março de 2011

Ares de Barcelona I - Museu de la Ciencia

Vou começar a preparar (ou vou tentar preparar) uns videozinhos sobre o que vejo por aqui. Esse foi o primeiro, então é praticamente um teste, hehe. Foi filmado no domingo, no Museu de la Ciencia, com a ajuda da minha amiga Elsa - que é da Itália.

O som não está lá essas coisas, nem a imagem está tão boa, mas se tiverem outros, garanto que serão melhores! Ah, e ele foi feito sem roteiro - então não liguem para minha super improvisação.

Ares de Barcelona - visita de hoje: Museu de la Ciencia from alice agnelli on Vimeo.

domingo, 13 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - I

a falta que fazem alguns eletrodomésticos

Outro dia tive que imprimir um texto do Chomsky de 10 páginas, mas demorei tanto que era como se ele tivesse 1000. Muito bem, abri o arquivo no computador da biblioteca, perguntei pra moça como fazia pra imprimir e ela me explicou passo a passo. Muito simples, veja só: aperte a tecla de imprimir, repare para qual impressora você está mandando o arquivo, dirija-se à sala das impressoras (aquelas gigantes que só faltam dar banho em criança), compre um cartão que te dá direito a 10 cópias (custo: 1,7 euros - !!), insira-o na máquina, perda-se nos milhões de botões dela, imprima errado, peça ajuda, imprima errado, peça outra ajuda, pague mais alguns centavos, imprima tudo torto. LEIA.

Depois, tem a questão do microondas. Graças ao bom deus, consegui que me emprestassem um para usar aqui em casa. O problema é que daqui 1 mês terei que devolvê-lo. E a dúvida é: oh, céus, como esquentarei minhas comidas congeladas?! Como aquecerei um copo de leite pelas manhãs?! Como?!


Fica mais um pouquinho aqui comigo, vai, prometo
que cuido direitinho de você...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Parlem catalá!

Molt bé, que aqui o catalão é o idioma oficial todo mundo sabe. Quer dizer, pelo menos eu acho que todo mundo sabe. Mas afinal, o que é isso?

Para alguns, parece um francês falado por um português. Para outros, um espanhol misturado com francês; e, para muitos, simplesmente uma mistura de todos esses idiomas. Por ser uma língua românica, muitas palavras têm a mesma origem daquelas que são em português, em espanhol, em francês, em italiano... E gramaticalmente falando as estruturas também são bem parecidas.

Nós, que falamos português, nos sentimos em casa quando vemos nas lojas a indicação para o "caixa". Igualzinha. "Porta", "cadira", "data", "entrar", "vermell", "rosa" e "verd" são algumas palavras que, veja só!, aposto que você sabe o que significa. Foneticamente, os sons do "z" e do "j" são os mesmos que usamos no português - diferente da pronúncia que é dada no espanhol.

Para os franceses, fica fácil saber como se diz "janela" ("finestra" em catalão, "fenêtre" em francês) ou "sair" ("sortir", em ambas as línguas). Também dá para entender o que significa o "hi ha", uma construção equivalente ao "il y a" - que para nós seria o "há". Além disso, alguns pronomes são parecidos, como o "en". Já os italianos não têm problema quando querem "parlar" ("parlare") ou "menjar" ("mangiare").

Meu curs
Por duas semanas tive um curso intensivo de catalão, com duração de 40h. Oferecido gratuitamente pela universidade, acabou sendo não só uma boa introdução para o idioma como também uma ótima forma de conhecer outros intercambistas. Para se ter uma ideia, meus melhores amigos daqui - até agora - são os que eu conheci nas aulas.

__________________anotações da primeira aula

A classe era pequena (tinha umas 15 pessoas), a professora bem atenta aos alunos e eu, por ter passado toda a minha vida ouvindo o catalão, era a melhor (tirei 95% na prova, oh yes, hehe). Para facilitar a aprendizagem, muitas vezes a Mercè, la prof., fazia comparações entre as outras línguas românicas.

Por exemplo, se notarmos a formação do gerúndio, temos:

Português___________ Espanhol____________ Catalão____________ Francês
_-ndo_______________ -ndo_______________ -ant_______________ -ant

Outro exemplo: em algumas palavras o "d", usado em português e em espanhol, vira "t" no catalão e no francês. É o caso de "dedo":

Português___________ Espanhol____________ Catalão____________ Francês
__dedo______________ dedo________________ digt_______________ dit


Mas, afinal, catalão para quê?
É possível viver tranquilamente em Barcelona sem dizer um pingo de catalão. Como (obviamente) o espanhol também é o idioma oficial, todos falam ambas as línguas - e até as misturam durante uma mesma conversa.

Sim, é incrível como os catalães trocam de uma hora para a outra a língua que estão falando. É super comum ouvir pessoas conversando em catalão e, de repente, perceber que, pera aí, isso daí não é espanhol?! Várias vezes ouvindo a conversa alheia percebi pessoas contando uma história em catalão sobre alguém que tinha dito algo em espanhol - e então para fazer a citação... Mudam de idioma._

Como aqui é uma cidade muito turística e repleta de imigrantes, o catalão acaba ficando em segundo plano. Eu, que vim com a superespectativa de que falaria e aprenderia a língua dos meus avós, me frustrei quando percebi que não era bem assim. Quando percebem que você não fala muito bem, para facilitar a sua compreensão logo mudam o idioma para espanhol.

Conversando com uns amigos dos meus avós, eles mesmos notaram que possuem uma parcela de culpa ao fazer com que o idioma não seja "tão necessário" na capital da Catalunya. Eles contaram um exemplo bem simples, mas que deixa claro essa lógica de que "para serem educados, se adaptam ao idioma que seu interlocutor entenderá". Todos os dias, os dois vão à padaria. Pelas manhãs, as atendentes são imigrantes - e falam apenas o espanhol. Logo, automaticamente eles pedem por "pan". Quando vão durante às tardes, sabem que o atendente é catalão. O que eles pedem? "Pá". Simples assim.

Ao perguntar na rua alguma informação, por mais que você tente soltar uma frase ensaiada no idioma das quatro barras, a resposta vem em espanhol. Na cafeteria da faculdade, el mateix (a funcionária até tinha me prometido que falaria comigo só em catalão, mas logo no segundo dia estava falando em espanhol). Pero, ostres! Jo vull aprendre el catalá! - e ninguém entende como é possível alguém de fora querer aprender essa língua falada por só 10 milhões de pessoas. Doida.

Além disso, grande parte da população não é fluente no idioma - ou seja, não sabem ler, escrever, falar e entendê-lo. Isso porque durante a ditadura de Franco ele foi proibido - e acabou sobrevivendo clandestinamente dentro das casas.

Dessa forma, por um grande período as pessoas pararam de escrever - e também de ler - em catalão. Nas escolas, parou-se de ensinar a língua. E então, a porcentagem dos mais velhos que sabem colocá-lo no papel chega a 50% (enquanto o espanhol é 100%). Segundo dados que me mostraram em uma das aulas, a porcentagem dos maiores de 40 anos que entendem o idioma é de 95%; já dos que falam, 75%; os que leem, 75%.

Quanto aos menores de 40 anos, todos têm as 4 competências linguísticas - tanto em catalão, quanto em espanhol... Espero entrar nessa estatística!

Barcelona


Ela é possessiva. Sim, sim, muito possessiva. Quer que você seja dela e de mais ninguém, quer chamar todas as atenções para si, quer que todos a conheçam. Ela quase que não deixa você respirar, de tanto que pede: "olha pra mim, continua olhando...". Ela exige sempre sua presença e não cansa nunca, nunca descansa. Ela quer é que vejam sua beleza.

É, porque ela é muito bonita. Muito mesmo. E fotogênica. Isso faz com que qualquer coisa renda uma bela imagem. Tudo dá para virar foto, com ela.

Ela adora sair, adora conhecer gente nova - e é simpática. Bem simpática. Tão simpática que tenta falar em todas as línguas para entender a todos (e ser entendida). Isso faz com que tenha muitos, muitos amigos. E muitos amigos que a invejam.

Ela te cativa. Impossível não se apaixonar. Pergunte a qualquer um o que acha dessa menina. Algum elogio sairá, você vai ver.

Ah, danada, você me pegou de jeito.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ensina-me a viver...

Precisamos de dias e mais dias de chuva para apreciarmos um raio de sol. Precisamos da falta de papel e caneta para termos uma ideia fabulosa. Precisamos de notas desafinadas para ouvirmos uma melodia. De sabores fortes para percebermos um doce aroma. Do cheiro da fumaça que nos intoxica para sentir o da grama fresca. Das desgraças dos noticiários para aproveitarmos um abraço. E da morte para valorizarmos a vida.

Harold é um jovem de 19 anos, que vive encenando formas de morrer para chamar a atenção de sua mãe. Esta, por sua vez, está sempre ocupada - e nos últimos dias sua maior preocupação é encontrar uma moça para se casar com o filho.

Maudi é uma excêntrica velhinha que mora em uma casa repleta de quinquilharias "emprestadas". Nada a pertence - apenas a data de sua morte e um imenso amor pela vida.

Ambos são personagens de Ensina-me a viver, de Colin Higgins, agora em temporada popular (R$ 15 a meia) no Teatro das Artes. A obra é uma adaptação do filme homônimo, sucesso nos anos 70 e tem direção de João Falcão. Ela estreiou em São Paulo em 2007 e no ano seguinte ganhou o Prêmio APTR em Melhor Produção.

Com uma trilha sonora descolada (que inclui Beirut, por exemplo), a peça é um prato cheio para os olhos e, porque não (perdoem-me pelo clichê), para a alma. Seus efeitos luminosos, sua cenografia quase onírica, seu roteiro repleto de frases simples mas profundas e suas atuações incríveis a enchem de momentos encantadores. Daqueles que são capazes de colocar um doce sorriso junto a uma pequena lágrima no rosto da plateia.

Sombra e luz. Velho e novo. Morte e vida. Dicotomia. Ela, que permeia toda a obra, é o que explica a atração de Harold, interpretado por Arlindo Lopez, por Maudi, vivida por Glória Menezes. Afinal, enquanto um já havia morrido 17 vezes - logo em sua primeira cena aparece enforcado - não encontrando sentido em viver; a outra sabe que a morte se aproxima, então aproveita ao máximo os dias que lhe restam. Máximo com o mínimo. Poesia.

- Vale a pena, eu garanto - diz Maudi, sobre a vida.

Digo o mesmo sobre a peça.