quinta-feira, 20 de março de 2008

Geléia

Era um dia comum, de uma semana comum, de um mês mais comum ainda. Trabalhos, projetos, inúmeras responsabilidades a atordoava enquanto andava em direção à faculdade. Por sorte, a rotina colocara em seu caminho uma loja de animais, de onde algo a chamava. Eram batidas atormentadas no vidro da vitrine, escandalosas. Latidos que mais pareciam súplicas, pedidos de socorro. Ou melhor, eram eufóricos como se houvesse encontrado algo que perdera há tempo.

Sem hesitar, ela parou em frente à loja. O animal acalmou-se, e agora parecia chamá-la: "Entre! Esperei tanto por esse dia!". Foi o que fez. Minutos depois viu-se com a cadelinha nos braços, depois de muitos pulos de alegrias vindos desta.

-Ela é sempre assim?

-Não! Só com a senhora!

-Ela dormiu?

-Parece que sim...

Dormia. A cachorrinha, de olhos fechados, descansava serenamente em seu ombro. Como um bebê, uma criança no colo da mãe.

-Eu vou para a aula, tem como buscá-la depois?

-Claro.

[não sei se o "não! só com a senhora!" foi pura conversa de vendedora -e de boa vendedora-, ou era algo do além, aquelas coisas que dizem ser 'de outra vida']

-Filho! Uma cachorrinha!

Ele não acreditava. Esperava a mãe voltar da aula para pedir a ela que o levasse à casa de um amiguinho, para jogar video game. Agora não precisaria mais.

-Nossa, mãe! Ela faz o quê? Late?

-Late, late, sim! Foi ela que me encontrou, que me chamou!

-Sério? Mas mãe, ela tá tão quieta...

Embaixo dos armários da área de serviço, entre a parede e a geladeira, em cima do criado-mudo, não importava. A cadelinha se acomodava em qualquer lugar e lá ficara durante horas, horas..Não brincava, e muito menos se alegrava para passear. Ela permanecia eternamente "tão quieta".

-Problema no coração. -afirmou o veterinário.

Dias se passaram, e as férias chegaram. Nelas, a obrigação de "forçar o cachorro a passear" foi eliminada. Sem isso a cachorrinha ficava em casa, nos cantos, e só levantava para comer.

Comia, comia..foi engordando.

-Será que ela não tá prenha?

E engordava. Quando deitava, parecia uma geléia. Mal andava. O menino esquecera dela logo, preferia os amigos e os video games.

-O coração?

Continuava batendo, e lembrando do primeiro dia em que viu sua futura dona. Batendo, batendo. Fazendo com que toda sua energia fosse para seu pulsar. Batendo, batendo.

[me contaram hoje essa história, da Teka que tá-gorda-feito-uma-geléia.]

segunda-feira, 17 de março de 2008

Reviravolta


Eu que pensei que nunca mais teria um blog, enganei-me. Nunca mais seria muito tempo de afastamento. Escrever foi um vício. E ainda é. Palavras sempre correram por meu sangue e aqui, finalmente, encontrarão um meio para serem engarrafadas em pequenos vidros, dispostos organizadamente na prateleira dos dias.

Tome com cuidado, mas sem medo. Caso exagere, não me culpe! Foi por livre e espontânea vontade.


Aproveite, deguste e delicie-se com a doçura -ou acidez- dessas doses de palavras.