quinta-feira, 31 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - III

o modo erasmus de ser

Você quer fazer um intercâmbio, viajar para uma cidade onde tenha muitas baladas e jovens de todo mundo. Onde? Barcelona. Não sabe falar catalão? Não é problema. Não sabe falar espanhol? Não se preocupe. Aqui todo mundo se entende. E quanto às aulas, algumas até são em inglês, olha só! (Isso se você se preocupa com elas, afinal, para que perder seu tempo em uma sala se você pode ir a uma superdisco à beira-mar?)

Barcelona é um dos destinos prediletos para os Erasmus, principalmente porque não é preciso conhecer a língua para vir para a Espanha. Sendo assim, a cidade fica cheia de intercambistas. Cheia mesmo. E muitos aproveitam a oportunidade só para festejar, curtir.... É um semestre sabático. Esse é o estereótipo erasmus: o aluno que não quer nem saber da cultura, da língua ou das aulas. O importante são as festas, as bebidas e as pessoas. E por mais que pareça um exagero, ele é real.

Aí o que acontece? Eles, os Erasmus, acabam se fechando em grupos - a maioria se matricula nas mesmas matérias e vão sempre às mesmas festas. Sotavento, Shoko e Opium são algumas baladas que se você não falar inglês, amigo, está por fora. Com isso forma-se uma bolha, onde o idioma comum é inglês e as festas são sempre próximas ao Paseo Marítim. Mas é uma bolha que dá para ser rompida... Afinal, existem sempre as exceções às regras. Santas exceções!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ares de Barcelona II - Fallas de Valencia

Eu mal tinha chegado em Barcelona quando fui surpreendida pela pergunta: "você vai para as Fallas de Valencia?". Superfamosa (mas que eu nunca tinha ouvido falar, confesso), é uma festa típica da Comunidad Valenciana que acontece em março. Basicamente, é quando se espalham pelas ruas da cidade diversas esculturas gigantes de bonecos que satirizam temas atuais. No último dia da festa (no caso, 19/03), ateia-se fogo a eles - é a chamada "cremà de las fallas". O espetáculo é incrível. E como se não faltasse a queima, soltam-se fogos de artifício.

Fui com um grupo de amigos no sábado e ficamos até domingo. Novamente, o som da passagem não está muito bom (afinal, estou gravando com minha câmera fotográfica e.. Bem, era uma externa no meio da multidão. Dá pra entender, né?). As fotos da abertura foram feitas pela Eva, que é da República Tcheca, e pelo Michal, da Polônia. Quem está me filmando é a Anais, mon ami français.

Ares de Barcelona - visita de hoje: Fallas de Valencia from alice agnelli on Vimeo.

sábado, 19 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - II

a diferença entre os cursos

Estou fazendo aulas de economia e de sociologia. É incrível a diferença entre os alunos, os professores e também a forma de avaliação das matérias. Eu sei que isso também acontece no Brasil (tanto que dá para identificar de longe um feano e alguém da FFLCH), mas foi engraçado confirmar que, não importa aonde você esteja, grande parte dos estudantes de economia quando questionados sobre o "porquê-de-fazer-esse-curso", têm como resposta "para ter emprego/para ganhar dinheiro...". Isso quando têm uma resposta. Ai ai...

Quanto às aulas também são bastante diferentes. Enquanto as de economia são praticamente expositivas, as de sociologia sempre têm debates e mais debates. Se nas primeiras, os professores tratam os alunos como "mais um", nas outras - também por serem em menor quantidade - eles são chamados pelos nomes. Já a quantidade de trabalho é inversa. Ela é bem maior nas de sociologia do que nas de economia - que só tem uma prova no final do semestre (mas vai saber como será...).

terça-feira, 15 de março de 2011

Ares de Barcelona I - Museu de la Ciencia

Vou começar a preparar (ou vou tentar preparar) uns videozinhos sobre o que vejo por aqui. Esse foi o primeiro, então é praticamente um teste, hehe. Foi filmado no domingo, no Museu de la Ciencia, com a ajuda da minha amiga Elsa - que é da Itália.

O som não está lá essas coisas, nem a imagem está tão boa, mas se tiverem outros, garanto que serão melhores! Ah, e ele foi feito sem roteiro - então não liguem para minha super improvisação.

Ares de Barcelona - visita de hoje: Museu de la Ciencia from alice agnelli on Vimeo.

domingo, 13 de março de 2011

Pequenas notas sobre aqui - I

a falta que fazem alguns eletrodomésticos

Outro dia tive que imprimir um texto do Chomsky de 10 páginas, mas demorei tanto que era como se ele tivesse 1000. Muito bem, abri o arquivo no computador da biblioteca, perguntei pra moça como fazia pra imprimir e ela me explicou passo a passo. Muito simples, veja só: aperte a tecla de imprimir, repare para qual impressora você está mandando o arquivo, dirija-se à sala das impressoras (aquelas gigantes que só faltam dar banho em criança), compre um cartão que te dá direito a 10 cópias (custo: 1,7 euros - !!), insira-o na máquina, perda-se nos milhões de botões dela, imprima errado, peça ajuda, imprima errado, peça outra ajuda, pague mais alguns centavos, imprima tudo torto. LEIA.

Depois, tem a questão do microondas. Graças ao bom deus, consegui que me emprestassem um para usar aqui em casa. O problema é que daqui 1 mês terei que devolvê-lo. E a dúvida é: oh, céus, como esquentarei minhas comidas congeladas?! Como aquecerei um copo de leite pelas manhãs?! Como?!


Fica mais um pouquinho aqui comigo, vai, prometo
que cuido direitinho de você...

sexta-feira, 4 de março de 2011

Parlem catalá!

Molt bé, que aqui o catalão é o idioma oficial todo mundo sabe. Quer dizer, pelo menos eu acho que todo mundo sabe. Mas afinal, o que é isso?

Para alguns, parece um francês falado por um português. Para outros, um espanhol misturado com francês; e, para muitos, simplesmente uma mistura de todos esses idiomas. Por ser uma língua românica, muitas palavras têm a mesma origem daquelas que são em português, em espanhol, em francês, em italiano... E gramaticalmente falando as estruturas também são bem parecidas.

Nós, que falamos português, nos sentimos em casa quando vemos nas lojas a indicação para o "caixa". Igualzinha. "Porta", "cadira", "data", "entrar", "vermell", "rosa" e "verd" são algumas palavras que, veja só!, aposto que você sabe o que significa. Foneticamente, os sons do "z" e do "j" são os mesmos que usamos no português - diferente da pronúncia que é dada no espanhol.

Para os franceses, fica fácil saber como se diz "janela" ("finestra" em catalão, "fenêtre" em francês) ou "sair" ("sortir", em ambas as línguas). Também dá para entender o que significa o "hi ha", uma construção equivalente ao "il y a" - que para nós seria o "há". Além disso, alguns pronomes são parecidos, como o "en". Já os italianos não têm problema quando querem "parlar" ("parlare") ou "menjar" ("mangiare").

Meu curs
Por duas semanas tive um curso intensivo de catalão, com duração de 40h. Oferecido gratuitamente pela universidade, acabou sendo não só uma boa introdução para o idioma como também uma ótima forma de conhecer outros intercambistas. Para se ter uma ideia, meus melhores amigos daqui - até agora - são os que eu conheci nas aulas.

__________________anotações da primeira aula

A classe era pequena (tinha umas 15 pessoas), a professora bem atenta aos alunos e eu, por ter passado toda a minha vida ouvindo o catalão, era a melhor (tirei 95% na prova, oh yes, hehe). Para facilitar a aprendizagem, muitas vezes a Mercè, la prof., fazia comparações entre as outras línguas românicas.

Por exemplo, se notarmos a formação do gerúndio, temos:

Português___________ Espanhol____________ Catalão____________ Francês
_-ndo_______________ -ndo_______________ -ant_______________ -ant

Outro exemplo: em algumas palavras o "d", usado em português e em espanhol, vira "t" no catalão e no francês. É o caso de "dedo":

Português___________ Espanhol____________ Catalão____________ Francês
__dedo______________ dedo________________ digt_______________ dit


Mas, afinal, catalão para quê?
É possível viver tranquilamente em Barcelona sem dizer um pingo de catalão. Como (obviamente) o espanhol também é o idioma oficial, todos falam ambas as línguas - e até as misturam durante uma mesma conversa.

Sim, é incrível como os catalães trocam de uma hora para a outra a língua que estão falando. É super comum ouvir pessoas conversando em catalão e, de repente, perceber que, pera aí, isso daí não é espanhol?! Várias vezes ouvindo a conversa alheia percebi pessoas contando uma história em catalão sobre alguém que tinha dito algo em espanhol - e então para fazer a citação... Mudam de idioma._

Como aqui é uma cidade muito turística e repleta de imigrantes, o catalão acaba ficando em segundo plano. Eu, que vim com a superespectativa de que falaria e aprenderia a língua dos meus avós, me frustrei quando percebi que não era bem assim. Quando percebem que você não fala muito bem, para facilitar a sua compreensão logo mudam o idioma para espanhol.

Conversando com uns amigos dos meus avós, eles mesmos notaram que possuem uma parcela de culpa ao fazer com que o idioma não seja "tão necessário" na capital da Catalunya. Eles contaram um exemplo bem simples, mas que deixa claro essa lógica de que "para serem educados, se adaptam ao idioma que seu interlocutor entenderá". Todos os dias, os dois vão à padaria. Pelas manhãs, as atendentes são imigrantes - e falam apenas o espanhol. Logo, automaticamente eles pedem por "pan". Quando vão durante às tardes, sabem que o atendente é catalão. O que eles pedem? "Pá". Simples assim.

Ao perguntar na rua alguma informação, por mais que você tente soltar uma frase ensaiada no idioma das quatro barras, a resposta vem em espanhol. Na cafeteria da faculdade, el mateix (a funcionária até tinha me prometido que falaria comigo só em catalão, mas logo no segundo dia estava falando em espanhol). Pero, ostres! Jo vull aprendre el catalá! - e ninguém entende como é possível alguém de fora querer aprender essa língua falada por só 10 milhões de pessoas. Doida.

Além disso, grande parte da população não é fluente no idioma - ou seja, não sabem ler, escrever, falar e entendê-lo. Isso porque durante a ditadura de Franco ele foi proibido - e acabou sobrevivendo clandestinamente dentro das casas.

Dessa forma, por um grande período as pessoas pararam de escrever - e também de ler - em catalão. Nas escolas, parou-se de ensinar a língua. E então, a porcentagem dos mais velhos que sabem colocá-lo no papel chega a 50% (enquanto o espanhol é 100%). Segundo dados que me mostraram em uma das aulas, a porcentagem dos maiores de 40 anos que entendem o idioma é de 95%; já dos que falam, 75%; os que leem, 75%.

Quanto aos menores de 40 anos, todos têm as 4 competências linguísticas - tanto em catalão, quanto em espanhol... Espero entrar nessa estatística!

Barcelona


Ela é possessiva. Sim, sim, muito possessiva. Quer que você seja dela e de mais ninguém, quer chamar todas as atenções para si, quer que todos a conheçam. Ela quase que não deixa você respirar, de tanto que pede: "olha pra mim, continua olhando...". Ela exige sempre sua presença e não cansa nunca, nunca descansa. Ela quer é que vejam sua beleza.

É, porque ela é muito bonita. Muito mesmo. E fotogênica. Isso faz com que qualquer coisa renda uma bela imagem. Tudo dá para virar foto, com ela.

Ela adora sair, adora conhecer gente nova - e é simpática. Bem simpática. Tão simpática que tenta falar em todas as línguas para entender a todos (e ser entendida). Isso faz com que tenha muitos, muitos amigos. E muitos amigos que a invejam.

Ela te cativa. Impossível não se apaixonar. Pergunte a qualquer um o que acha dessa menina. Algum elogio sairá, você vai ver.

Ah, danada, você me pegou de jeito.