segunda-feira, 6 de junho de 2011

Les Borges Blanques

A cidade é bem pequena. Nem é uma cidade, para falar a verdade (rimei, desculpa, foi sem querer e eu sei que isso não é hora de rimar - se é que existe hora para rimar). É uma cidadezinha perdida em meio a oliveiras, vinhedos e pés de frutas.

- Caraca, você sabia que eles tem um azeite super bom?

Me perguntaram. Sei. Desde que nasci ouço isso do meu avô. "O melhor azeite do mundo". Já tive uma discussão ferrenha com uma amiga italiana que dizia que os melhores azeites vinham da bota - e da Grécia. É melhor porque você acha que é melhor. Mas tudo é relativo... Ela também dizia que o melhor café, o melhor macarrão e a melhor pizza... Tudo vinha da Itália. Eles têm essa mania, mas nós, paulistanos, sabemos que nessa última, ganhamos. E como sabemos!

Se bem que eu não gosto muito de achar que o melhor-do-mundo é meu, não. Afinal, é melhor por estar acostumada a isso. Mas o melhor pode ser o outro. Ai, é tão bom saber que o outro pode ser melhor. Sabe essa história de não ter a responsabilidade? Às vezes dá um alívio...

Voltando à cidadezinha. Uma praça: Terrall. Ah, o Terrall. Quantas vezes não ouvi esse nome. É um lugar bem normal, para falar a verdade: com patos nos lagos e velhos nos bancos. E como há velhos! Acho que o homem mais rico da cidade é o fazedor-de-bengalas. Só o irmão do meu avô anda com duas...

Além dos azeites, têm as azeitonas. Afinal, se são elas as responsáveis pelo tal-do-óleo, nada mais justo terem seu momento de fama. E além dos azeites e das azeitonas, que estão na mesa, tem toda a familiarada em volta dela. E quantos são! Variam de 93 anos aos 3 meses de idade. Essa é a faixa etária. Parece até mentira quando digo. A mais novinha, gorducha, nem imagina o que-fala-essa-gente. E como falam... Falam das suas buchechas, Margot!

De repente, o relógio começa a tocar. É uma hora qualquer: nem inteira, nem quarto. "Ele está aposentado, faz o que quer, na hora que quer. É por isso que eu gosto dele". Aposentado e centenário. Quantos já não ouviram o toque desse relógio. Quantas vezes ele já bateu.

Tem também os remédios. Cada parente vem com um diferente. Rimei de novo, droga, foi sem querer. O da vez é um efervescente (outra vez?), que está borbulhando sobre a mesa. Tenho a sensação de que as coisas aqui são vivas. As almofadas com bordado de rosas principalmente. E o tapete marrom com círculos de décadas passadas. Eu sei que eles têm história para contar.

Assim como o Josep, que repetia a de uma das suas netas: "Ela é pesquisadora e com 30 anos decidiu que não se casaria. Viaja, faz conferências, sabe línguas. E é feliz.". Seja feliz, me disseram várias vezes. "Sé ama de la teva vida i, sobretot, sigui humana". Ixi, meio que rimou.