sexta-feira, 25 de julho de 2008

Instante


O peixe mordeu a isca.
A mosca pousou na sopa.
O casulo se abriu.
O farol fechou.
A água evaporou.
A fruta madura caiu.
A maçã estragou.
O sol nasceu.
O homem morreu.
A flor desabrochou.
O telefone tocou.

O chiclete grudou.
O mosquito picou.
O governo roubou.
O dinheiro acabou.
O sino badalou.
O time treinou.
A bola entrou no gol.
O louco gritou.
O aluno perguntou.
O policial multou.
O exausto trabalhou.
A biribinha estourou.
O menino espirrou.
A mãe o agasalhou.
A menina se maquiou.
O cabelo embaraçou.
O gordo arrotou.
A feia cantou.
O bebê chorou.
O leite ferveu.
A bebida destilou.
O ovo fritou.
A TV pifou.
O rádio chiou.
O computador ligou.
A bicicleta acelerou.
O carro atolou.
O avião decolou.
O pneu furou.
O trem apitou.
O radar o pegou.
O viajante chegou.
O caminhão atropelou.
A vista turvou.
O chocolate acabou.
A bala matou.
A lágrima derramou.
A freira rezou.
O padre pecou.
O amigo a abraçou.
A fila andou.
O casal se beijou.
O amor suspirou.
O clima esquentou.
O jantar esfriou.
O vidro embaçou.
A luz se apagou.
O sapato apertou.
O botão se abriu.
A calça folgou.
O copo quebrou.
O fogo acendeu.
E o tempo voou...



...enquanto você apenas lia o título.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Querido Diário (quer dizer, Querido Noturno),

Era um dia de férias. Mais um dia daqueles que você não agüenta mais ficar em casa. Ainda mais sabendo que a bendita (ou maldita) lista que definiria sua rotina (ou desrotina) do ano estaria para sair.

-Ai, Savi, eu vou pra sua casa, tá? Já estou indo, pode ser?

-Vem, vem sim...a Vick tá aqui!

Fui. Já tinha passado as férias inteiras com elas - fazia parte dos dias vazios de janeiro se completarem com as nossas conversas e risadas.

-Então eu vou colocar um filme gente... aí você sossega um pouco, Lice -qualquer um que você quiser, a Savi já vai ter visto e, mais, vai saber contar a história de cabo a rabo com todos os detalhes, por horas a fio, e comentários cinéfilos - Qual que vocês querem? Não, já sei. Vou por esse pra acalmar você.

Orgulho e Preconceito. Sim: sotaque britânico carregado, vestidos longos, declarações, paisagens calmas em contraste com o conflituoso romance de Elizabeth e Darcy. Quase no final do filme - no momento em que frases de efeito se misturam às cenas bem construídas, à trilha envolvente e aos sentimentos que nos são lançados (um aperto, um amor, uma alegria, uma tristeza) - tocou meu celular.

-Alice, filha, você passou na USP!

-Oi?!? Passei? Como assim??? JURA?!?

-Passou!

-AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!

O momento de euforia foi longo. Bem longo. Chegou até a ficar histérico e, deveras, cômico. As três que quase estavam chorando como a chuva do filme, passaram a pular. É, bem isso mesmo. A pular. E não estávamos sozinhas: a cachorrinha Mel, poodle desgovernada que adora latir pra mim e nunca foi com a minha cara, nos acompanhou. E latiu também, lógico.

-Só que no noturno...

-AAAAAAHHHhhhhhhh
...mas tudo bem... eu passei! eu passei! Gente, eu passei!

O que segue foi simplesmente esquecer o fim dos dois protagonistas (não digo o beijo, porque esse final seria só na versão americana, num é?) e ir para o computador ver quem mais conhecido estaria pulando como a gente. Entrar na internet sem ir logo para o Orkut, não é entrar na internet, então logicamente, assim como abriu-se uma janela com a lista dos aprovados, o azul do Orkut logo começou a enfeitar o monitor. E scraps começaram a surgir, vindos de pessoas que eu nunca vira: "parabéns!", "seja bem vinda à ECA!", "estes serão os melhores anos da sua vida, aproveite!", "fala, bixete!!".

De repente, o que antes estava esquecido em meio ao pó orkutiano, sofreu uma reviravolta. Uma avalanche. Uma revolução: comunidade nova, milhares de mensagens de parabéns, e uma coisa era certa: "Não perca a semana dos bixos, bixete! Vai ser a melhor semana das suas férias!". Minhas férias tinham sido tão boas que eu até cheguei a duvidar...

Dia da matrícula ("oh, nem vai muito arrumada!" - conselho que eu percebi valer para todos os dias do ano). Frio na barriga. E se tivesse faltando algum documento? Vontade de conhecer todo mundo. Vontade de conhecer tudo. Vontade de ser pintada, ser chamada de "bixete", sobreviver ao tão temido trote. Ué, mas é só isso? Na ECA foi assim - nada de humilhações, apenas muitas cores na cara e conversas, conversas e conversas. Recebi mais do que boas vindas: ganhei uma família (e alguns futuros colegas de classe, que eu encontrei na perdida tarde após busca contínua de Jornots). A dúvida de querer mudar para o matutino foi logo dissipada - ah, não! Jornot é mais legal!

O intervalo entre a matrícula e a semana dos bixos foi interminável. Cadê essa semana que não chega?!? Repleta de atividades - muitas das quais não precisavam nem ser tão programadas porque no fim, bixo é burro e faz tudo errado (vide "pic bandeira" de bexigas...), alguns jornots aqui, outros ali, mas o que se via mesmo eram mats pra todos os cantos.

Ah, não tem problema. Os nots eu vou conhecer de qualquer jeito dentro da sala. Conversas com alguns, primeiros bandejões com outros, mas total que na semana dos bixos, nós, jornots, passamos mais tempo por aí falando com pessoas diversas do que a procura da nossa sala. Pepês, avês, plásticos, cênicos, músicos...e jornots que é bom, nada (se bem que dizem que sempre é bom deixar o melhor para o final).

Logo percebi os ventos polares da prainha. O calor de verão, incrivelmente, virava sopros gélidos a noite. Não deu outra: fiquei doente. O fim da minha intensa semana teve direito a febre e tudo. Fazer o quê, era alegria demais pra minha pequena grande pessoa.

Primeiro dia. Digo, primeira noite. Todo mundo sentado, sério, uns conhecidos aqui, umas caras novas ali...Uma professora bem conservada e uma coca-cola. Para falar a verdade, nem lembro muito bem como foram os primeiros dias. Provavelmente cheios de “oi, eu sou fulano”, “então tá, tchau beltrana!”, “muito prazer, cicrano”. E tenho que falar que realmente, o prazer foi grande de ter conhecido todos.

Idéias malucas, cidades que eu nunca tinha ouvido falar, um povo genial. E bem doido. Logo na primeira Festeca descobrimos que o que faz realmente as festas da ECA são as pessoas – música? Bebida? Essas acabam...agora vai ver se os assuntos jornoteanos têm fim! Nunca! Depois veio a outra, mas com cara de balada – ou não. Normalmente não se trincam cóccixes (é esse o plural de "cóccix"? Nunca escrevi isso antes, assim como você nunca deve ter lido, então vamos fingir que sim) em baladas. A Abril serviu pra ver que jornots bebem. E bebem por bosta!

Depois começaram a vir os seminários. E a invenção do CAJU! Grandes reuniões jornoteanas regadas de...bom humor! Se o primeiro não teve lá grande número de participantes, foi no segundo –a festa do shiu!- que começou a aproximação de verdade desses malucos da noite ecana. E começou a lenda de que sempre haverá uma vítima nas nossas confraternizações.

Agora o tão falado JUCA. Ah, esse mereceria um post exclusivo. Aliás, mereceu (vê lá embaixo tudo que eu fui capaz de contar sobre nós em guará). Numa escola primária em Guaratinguetá, jornots08 encontraram a intimidade. Tão temida para alguns, tão querida para outros. Canecas cheias, gols vazios (ah, gente, sejamos realistas, mas os jogos que eu vi, a gente só perdia!), gritos de guerra. Desde a farofada do ônibus, esses bixos do jornot deram o que falar. E deixaram muitos com vontade de fazer parte dessa sala assaz animada - isso eu tenho certeza!

Juca pra lá, Juca pra cá...e mais uma Festeca. Engraçado é que ela foi no meio, mas acabou ficando sem meio. Importante é saber que em Guaratinguetá, as pessoas se revelaram. Personalidades incríveis surgiram (Zé Cipeno? Hélio? Duran? Chileno do Cambodja seu buRRRo?), músicas sensacionais embalaram (je vé bocu de gatos!), e até uma tentativa de OJE rolou!

Só sei que voltamos daquele País das Maravilhas para o encontro de uma semaninha básica de descanso – sim, dormir era preciso. E comer direito também. Só não sabíamos que depois do (pseudo)Congresso, viriam provas, e mais seminários. Foi aí que o pessoal começou a pensar que seria bom ler alguma ou outra coisa relacionada às matéria...ou não. Milhares de reuniões, fédivé, fédivé e mais, fédivé! Apresentações. E festa junina, quintas & brejas, cajunina...

O certo é que nesse semestre, que passou voando – e diz a lenda que a partir daí cada um é mais rápido que o outro -, ouvimos milhares de sotaques diferentes, encontramos em uma só sala pessoas incríveis, percebemos o quê de doido que existe em todos os jornots e mais, como bons futuros jornalistas, nos perguntamos (e as respostas serão, eternamente, buscadas):

“O que é história?”

“Até que ponto, de fato, nos comunicamos?”

“História: uma construção do historiador?”

“Quem será próxima vítima jornoteana?”

“Será um dom meu riscar dvdzinhos?”

e mais,

“Como pode, em apenas um semestre, a gente se identificar tanto com esse povo louco?”

Isso, nem Freud explica. (E bote Freud nesses meses!)