sábado, 20 de dezembro de 2008

Mar e o Mar

Omar era um rapaz magricelo e branquelo,
que não gostava de praia.
não gostava de sandália, preferia saia.
(saia dela, a Mar)

Mar era o apelido de Marcela.
tudo que fosse de bom, era dela,
menos panela
(ela não gostava de cozinhar)

Omar viu a Mar e começou a divagar:

se mar fosse feminino seria a mar:
só tirar um espacinho para que virasse amar.
Amar a Mar, é bem diferente do que amar o mar,
não gosto de praia.

Em resposta, ela começou a falar:

mas Omar, eu amo o mar!
ele faz dois, o luar;
ele faz música, o cantar.
Mar é masculino para ser mesmo Omar.

Omar deixou pra lá o gostar somente de Mar,
e os dois terminaram bem dentro do mar.
E da Mar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Queime Depois de Ver



Ah, não gostei. Não gostei e não vou dizer que gostei ou elogiar o modo como os irmãos Coen fizeram para criticar organismos americanos como a CIA, cidadãos americanos como os personagens do núcleo da acabemia, ou a sociedade inteira.

Não vou dizer que eles foram geniais ao metaforizarem toda a confusão dos Estados Unidos em uma única confusão - a do enredo.

Discordo se disserem que é um humor fino, em seu negro véu. Não achei. Não gostei. E assim mesmo, tão infantil como age Brad Pitt no filme, continuo não gostando.

De que adiantam dois bonitões se um é mais besta que o outro? De que adiantam milhares de palavrões se o roteiro, para mim, não se sustenta? Fucker, fucker, fucker. Essa é a palavra mais dita. E adianta.

Por que são todos são estúpidos, ilógicos, imbecis? Aliás, para que serve um agente que há 20 anos não dispara uma arma - e ao disparar, mata, com um tiro na testa, um ignorante? Para que servem tantas trocas, tantas camas, tantos casais diferentes?

Serve só para me tirar da sala com uma cara amarrada, bem do tipo que eles queriam que as pessoas saíssem. Serve para me fazer rir da ironia ali contida. Serve para me achar também uma besta por ter entrado naquela sala de cinema e ali passado 93 minutos da minha tarde.

É, eles conseguiram.
Serviu.

Mas eu não gostei.

[E talvez não tenha gostado por pura hipocrisia, mas maior hipocrisia seria dizer que gostei]

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Passado Presente



Algumas vezes o passado nos persegue. Em uma carta inesperada, em um encontro ocasional, em uma despedida. Ele está ali, escondido no presente, em cada lembrança, cada foto revista.

Assim sentia-se o tradutor Rímini: sendo perseguido pelo seu passado, em um eterno conflito entre seu presente e suas memórias - muitas delas, literalmente perdidas.

Após um casamento de 12 anos com sua primeira namorada, Sofía, ele se vê na tentativa de retomar sua vida. Por oras, vida que se confunde com a da ex-mulher - por mais que o objetivo seja perdê-la em outras mulheres.

Sofía, por sua vez, busca reencontrá-lo - incansável, insasiável, aflita. É como um fantasma do que já foi, rondando a tentativa de nova vida do rapaz.

Doentia, muitas vezes a mulher dilacerada surge na trama angustiando cada vez mais o personagem, que também se torna cada vez mais envolto em uma certa ilucidez irremediável.

É como se ele fosse puxado para um passado que não tem fim, e apesar de agarrar-se às bordas do presente, tentando assim escapar, tem uma força maior que o empurra. Uma só mulher.

As outras que aparecem no filme, ainda assim, são tão fortes quando Sofía: Vera, com seu imbatível e paranóico ciúmes. Carmen, madura e serena. Enquanto a primeira traz em sua juventude a insegurança; a segunda parece ser um poço de tranqüilidade, dado, talvez, pela idade um pouco maior que a dos protagonistas.

Vera é intensa, ciumenta. Não agüenta imaginar uma segunda. Mesmo sendo ela, a segunda. Vermelho seria a sua cor. Passional. Assim como sua última cena - ou sua primeira.

Carmen, por sua vez, surge em um encontro de trabalho. Responsável, maternal. Não é a toa que, com Rímini, tem seu primeiro filho: Lúcio. Talvez, uma luz.

No entanto, é Sofía, em um de seus desesperadores momentos de insanidade, que surge. E o que sucede é o seqüestro do menino. Como conseqüencia, Rímini é impedido de ver sua ex-mulher e o garoto.

É o passado, outra vez, puxando-o fortemente. A loucura, o amor, o presente e o passado. Todos complexamente misturados, entre bilhetes de Sofía e pedidos para que ele separe as antigas fotos por ela guardadas até na brusca tentativa dele tentar reaver sua memória da língua francesa e inglesa: já não conseguia traduzir.

Por meio de reviravoltas, Hector Babenco expôs em linguagem cinematográfica o livro de Alan Pauls, O Passado. Em uma co-produção Brasil/Argentina e com roteiro em espanhol, o filme coloca Gael García Bernal e Analía Couceyro no papel do intrigante casal, e confirma o slogan - "A separação também pode ser parte de uma história de amor". Ah! ainda traz, como participação especial, Paulo Autran (falando em françês!). Voilà!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

É, amigo...


...Começou de novo o fim.

Fim de semestre, fim de ano. Aquele fim nostálgico que bota palavras e mais palavras em blogs, frases e mais frases de despedidas, apertos em corações que há tempos não se apertavam - ou melhor, que há tempos não se separavam.

Um aperto besta, doído, inexplicável. Até parece que ninguém nunca mais vai se ver. Até parece que amanhã não virá para aproximar o reencontro. Até parece.

Só parece. Se fosse... ah, se fosse aí sim não poderíamos nem explicar o que sentiremos em uma palavra unicamente brasileira: saudade. Explicaríamos em uma palavra mais internacional, antiga e teatral: tragédia. E aí sim o aperto não seria inexplicável. Seria terrível. Mais terrível do que já é.

Ou será que ele mesmo agora é terrível justamente por não ter explicação?

Pode ver. A partir de agora, a cada texto, ele aparecerá. A cada palavra, ele voltará. A cada foto que a gente insistir em ver. A cada jargão relembrado.

Sem nem perceber, nós vamos começar a propor aos outros "vambebêeeeeeee!". Não vão entender. E nós, jornotaiada, depois de anunciar com o fervor mineiro a vontade de bebemorar não vamos ter nem Oncinha, nem Hell Ice (para a sorte de vocês!). Vamos ter qualquer outra coisa, que junto de qualquer outros bons amigos, será de novo aquela coisa que antes de termos, tínhamos.

Pensei que nunca mais sentiria aquilo que senti ano passado - depois de uma vida com as mesmas pessoas, a separação de vez. E senti. Mesmo que não seja de vez.

Haja coração!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Reforma Ortográfica


- Fique tranquilo, pinguinzinho, a linguiça acabou mas sobrou ração!

- Não quero. Então eu quero o ceu, e colocá-lo num micro-ondas.

- Nada. Te darei, então, um livro de autoajuda e um creme antirrugas - só o suprassumo. Serve?

- Prefiro um autorretrato. Aliás, tenho que terminar a autoescola.

- Para de tirar o pelo, pinguim. Nem poder dirigir você pode. Quer comer uma pera e parar de falar bobagens?

- Pera! Só um minuto, que eu te perdoo pela falta de linguiça. Agora me vem com fruta... Só enrolação. Já comeu ovo com pão de kiwi (agora eu posso usar o "k" porque está no alfabeto! yes! "y" também!).

- Você está me deixando com enjoo. Whiskas sachê pra você (agora eu posso usar o "w" porque está no alfabeto! yes! "y" também!). Vou te colocar no zoo.

- Só se para isso eu tiver que pegar um voo.

- Você vai é de micro-ônibus, e nada de me dar um contra-ataque.

- Vou é chamar a minha amiga jiboia. Ela sim terá uma ideia ótima para fazer com que você me dê uma linguiça.

- Ai, não aguento mais! Você merece ser sequestrado para bem longe!

- Seria melhor mesmo. Prefiro um sequestro a esse diálogo louco com você.

Cara, depois dessa, nunca mais vi pinguim falar.

[Olha o que essa reforma ainda faz comigo!]