quarta-feira, 4 de março de 2009

Sincronicidade

Chegou em casa e a televisão estava ligada. Sua mãe, cansada, a cumprimentou com um boa noite - deixando a TV cantarolando sozinha - e dirigiu-se para o quarto.

Passou na cozinha, improvisou uma janta com os restos do almoço e se juntou àquela solitária falante. Se dizem que os opostos se atraem, nesse momento, ela discordou: também era uma solitária.

O canal sobre viagens mostrava um programa em que diziam sobre "capim dourado". Lindo. Uma cidade que sobrevive do artesanato feito com esse material que não é plantado: surge da terra brilhando, como um presente, e assim é aproveitado.

O olhar triste da senhora entrevistada, com rugas suadas do trabalho e de sol, paradoxalmente trazia a alegria de uma jovem que acabara de descobrir a beleza da vida. Acolheu-a de tal modo que logo deduziu: só podia ser brasileira.

Depois percebeu que o tal do capim dourado, na verdade, é o produto típico de uma região de Tocantins chamada Jalapão. Era o que mostrava a solitária falante.

O programa, A Gente Vive para Contar Histórias, veiculado pelo Discovery Travel & Living, era, na verdade um documentário dividido em dois episódios.

Naquele momento, ela via o primeiro deles - Jalapão. Não foi só a beleza do lugar que a prendera pelos 22 minutos de duração. Uma voz familiar chamara sua atenção.

Era do quadrinista Gabriel , que há alguns dias havia participado de uma palestra com Laerte em que ela estava presente.

Com a companhia do músico Daniel Daibem e do fotógrafo Alexandre Schneider, eles percorreram as maravilhas ecológicas e toda a riqueza cultural do leste de Tocantins.

O programa terminara com comentando o porquê de : seu irmão não sabia a pronúncia do G, quando pequeno, então apenas o chamava de Binho, Biel, ... O tal irmão, Fábio Moon, também estava na palestra. Mas não na mesa. Ele fizera FAAP. E lá apenas estavam ex-ecanos ilustres.

Logo em seguida, começou outro episódio da série. Dessa vez, era a jornalista Daniela Hirsch, o fotógrafo Tuca Reinés e o cinegrafista Sérgio Logullo fazendo o mesmo só que na Chapada das Mesas, no Maranhão.

Um dos locais visitados, a Cachoeira Santa Bárbara, chamara sua atenção. O sol refletia nas águas que refletiam nas rochas, e, juntos, com uma coreografia improvisada, dançavam, fazendo da rigidez em que todo esse reflexo se encostava algo leve, confortável.

Durante a aula que tivera durante aquele dia, comentara sobre a vontade que tinha de voltar a uma cachoeira. Apenas com aquela imagem conseguiu refrescar-se durante aquela noite quente.

Antes de se deitar, resolveu folhear uma revista. Reparou que a foto de capa era de autoria de um Tuca. Coincidência. Resolveu dormir certa de que sonharia com cachoeiras, trilhas, verde e um tênis sujo de lama. Mas não.

Quando acordou a única lembrança que tinha do sonho era de uma festa, dada em uma casa de praia, em que os quadrinistas estavam. No final da festa, ela lhes contou sobre toda essa história, començando pelo "Chegou em casa e a televisão estava ligada" e depois da história, eles haviam desenhado, para ela, em sua agenda (e no dia de seu aniversário), uma menina de costas com ovos de páscoa.

Acordou no dia seguinte e abriu a agenda. A página estava em branco, mas não estavam seus pensamentos que juntara todos esses episódios em uma rede de sincronicidades que só a fez surpreender-se uma vez mais com a chamada vida.

3 comentários:

Ana Paula Saltão disse...

meu.. você tem que ir a Bonito visitar as cachoeiras comigo.. só isso que eu te falo! :)

Fontes disse...

Você conseguiu ver o desenho no papel no seu sonho?

No papel, mesmo, como na vida real?

Du Graziani disse...

http://www.vimeo.com/2514459

Dê uma olhada ... vc não precisa ir tão longe pra ver lindos lugares.

Vale a dica.

Bjos