domingo, 14 de setembro de 2008

Whisky e Saltos


Convidados para uma mesa com Vinícius e Tom, o domingo não pôde passar em branco. Com as ironias, boas sacadas e poesia dos dois personagens que embalaram o Brasil e o mundo com sua bossa nova (mas que para eles continuava sendo samba), fomos levados a uma viagem no tempo.

De volta às saias e aos vestidos rodados, aos cabelos curtinhos, aos maiôs grandalhões e com muita música, a peça "Tom&Vinícius" deixa um sorriso estampado no rosto até nos momentos mais tristes e uma vontade de cantar continuamente.

“Tudo Azul”, “Plaza”... Estes são apenas alguns dos bares a que somos chamados. Copos de whisky, diálogos inteligentes e, principalmente, seres humanos. Capaz de mostrar o lado pessoal da relação entre os dois (e da relação deles com o mundo), a peça tem em excesso a dose humana - uma overdose de gente em seu estado genuíno, destiladíssimo.

Pequenas discussões, grandes amores, ciúmes, paixões, bobagens, planos... Tudo isso, para mostrar o quão passional era a época em que o ritmo da vida era muito mais lento (ainda que Tom reclamasse da rapidez com que passavam alguns carros nas ruas, impedindo as crianças de brincar tranqüilamente - agora, por outro lado, os carros não correm: travam em congestionamentos...).

Whisky e boas músicas não podiam faltar. É em companhia do cachorro engarrafado e discutindo sobre mulheres ácidas ou básicas que Vinícius e Tom compõem músicas e se perguntam sobre o futuro (apenas como estarão as mesmas músicas daqui 50 anos - 100 seria muito tempo... para essa pergunta, eu respondo: excessivemente comemorando-se sua chegada à meia-idade).

Cansado de mesas de bar? Não se preocupe. Também fomos levados à fria Paris (onde Vinícius termina com Lila e começa com Lucinha), aos Estados Unidos (para que Tom cante com Sinatra) e ao belo pôr-do-sol de Ipanema. Tudo com um ritmo apaixonante - com trocadilhos à parte - tanto na peça, quanto nas músicas.

As músicas? Começam com aquelas tocadas em "Orfeu da Conceição" - ponto inicial da parceria. Passa por "Samba de Uma Nota Só" (apresentado nos States), "Tristeza", "Desafinado", "Garota de Ipanema", "Água de Beber", entre outras. É claro, não podia faltar a clássica da bossa: "Chega de Saudades" *.

Mais do que uma peça, "Tom&Vinícius" é o retrato de uma amizade inigualável. Um retrato de um amor por música, arte e poesia. Uma bela mostra de vitalidade nos acordes da música brasileira. Um musical que apenas atesta a frase de Tom Jobim: "Eu vou morrer um dia, a música vai ficar..." .

* Falando em "Chega de Saudades", assisti ao filme de Laís Bodanzky de mesmo nome. E deu vontade de tirar os saltos do armário para rodar por um salão de baile.

Além das músicas, os 95 minutos expõem vidas e conflitos inerentes às paixões humanas mostrados entre rodopios, copos e bilhetes em guardanapos.

Histórias entrelaçadas como os corpos no meio do salão, fazendo a trama girar entre casais, amigos, ou apenas freqüentadores do ritual que aviva memórias e sentimentos daqueles que parecem já ter vivido o suficiente - mas que se recusam a ficar parados esperando a morte chegar.

Triângulo amoroso (ou seriam "quadrado"?), jovens interferindo na rotina do casal (Marici vê seu par Eudes derreter-se na companhia da moça Bel, que por sua vez, apenas foi ao baile para acompanhar seu namorado Marquinhos - DJ do local - mas acaba aprendendo muito mais do que simples passos de bolero), amores reencontrados (Álvaro e Alice, ambos viúvos, enfrentam as limitações e superam barreiras da idade) e ciúmes entre amigas (Nice, trazida ao baile por Elza, acaba encontrando um par enquanto esta limita-se à solidão) recheiam a história.

Como se não bastassem, ainda rodopiam pelo salão discussões sobre o amor, problemas técnicos (como a falta de energia elétrica) e berros da Elza Soares não deixando o samba morrer.

Mais uma vez, ritmos embalam a obra e confirmam ainda mais a vontade de viver – a mesma já embalada por Vinícius e Tom.



5 comentários:

Ana Paula Saltão disse...

Aah, como eu queria ser da época do cabelo curtinho e do maiõ gigante só eu sei.. ;)

Ainda bem que hoje, sabendo procurar, podemos até contar com whisky e saltos!

Alice Agnelli disse...

ainda bem.

mas eu também acho, às vezes, que nasci na época errada.

nada como uma saia rodada pra sair girando por aí!

Renata disse...

que delícia de texto!Hahaha, combinou tão bem com o blog!!
Whiski, bossa nova e novas doses de palavras...

Anônimo disse...

Assino embaixo.
assim foi nosso domingo.... e ainda por cima, "de repente, não mais que de repente"...

Anônimo disse...

ah... e vc pode por o vestido rodado e sair pra dançar, querida!
esqueceu que agora temos o samba-rock?!
hahahah já é!