terça-feira, 23 de setembro de 2008

Díspares Consoantes


Nunca pensara em se declarar, mas naquela tarde de outono, com folhas pelo chão e frio nas mãos, mudou de idéia.

Movida, talvez, pelo tédio (saiba que esse é o grande responsável por muitas mortes e nascimentos) e pela vontade inquietante de mudar os rumos de sua vida (outra coisa causadora de mortes e nascimentos), sem pausas ou grandes devaneios, disse:

- Faz tempo que eu não tenho um desses vícios arrebatadores, capazes de me corroer por dentro e me matar aos poucos - assim, pouco a pouco. Docemente.

- Cigarros?

- Não... Paixões.

E foi com o silêncio recebido como resposta, que, finalmente, ela percebeu. Os homens, de fato, não entendem indiretas.

5 comentários:

Bruna Escaleira disse...

Concordo com todas as letras e pontos.
E o tédio? Vilão mais maléfico de todos os tempos - porque ninguém desconfia dele!

Felipe Lobo disse...

Putz. Será que tem a ver com o que eu falei sobre londrino (http://crisedocaos.blogspot.com/2008/09/vida-de-londrino.html)?

Mas, bom, de fato, homens não entendem indiretas (reparou da dificuldade para admitir?).

Fontes disse...

a gente não entende indiretas e vocês não sabem ler mapas! Quero ver quem se dá melhor perdido numa floresta!

Mas a gente se apaixona do mesmo jeito, tanto quanto. A dificuldade para expressar o vício ou para entender o dos outros não diminui nossa intensidade. Mostra apenas que palavras sutis se moldam melhor a bocas sutis - como a sua.

Felipe M. Ferreira disse...

comentário do Fontes: sensacional!
principalmente as duas primeiras frases...
e vocês pensam demais!

Victor disse...

Uhuuu!
Eu sei ler um mapa!

Realmente, pensam demais... e a vida é curta pra ficar de indiretazinhas bobas.