domingo, 28 de setembro de 2008

Elogio ao Banho


Nada contra quem não toma.

Aliás, tudo contra, porque quem não toma banho não sabe aproveitar as coisas boas da vida. Não que não saiba. Pode até saber aproveitar algumas. Mas uma das melhores, não sabe.

Se bem que ela é uma das melhores no meu ranking de coisas boas da vida, e como tudo é relativo e eu não acordei hoje muito totalitária, respeitarei opiniões contrárias e as ouvirei com toda minha paciência.

Ouvirei, mas antes deixo claro dois pontos.

Primeiro, não vale dizer que tem gente que não toma por não ter onde tomar. Chuva existe para quê?!

[Chuva não só existe para alimentar plantas, mas também para alimentar clichês: lava as almas, se junta ao beijo e vira cena de cinema... ]

Segundo, dizer que não toma por preguiça/falta de tempo também não vale. Preguiça de se molhar ou de se secar?

Enfim, quanto aos banhos e não às pessoas, existem vários tipos.

Tá, também existem vários tipos de pessoas, e talvez se não houvesse tantos tipos de pessoas, não teriam tantos tipos de banhos, mas esse não é um texto sobre gente e sim sobre o que gente faz.

Voltando à água e ao sabonete. Banhos. Voltando, mas antes de começar de vez, um aviso: estou escrevendo sem o saber de experts em banhos.

Quer dizer, pensando bem, eu posso afirmar que já tomei muitos nessa minha vida; o que pode elevar meu nível de conhecimento em relação a eles...

Ok, considerem-me uma expert e tudo que eu vou dizer como verdades empíricas. Tudo não, mas a grande maioria, vai (se não banhos já não teriam a graça do novo).

Os tipos. Estes são tão variados como as frutas, as cores ou os sapatos. Existem várias formas diferentes de se tomar banho - o que é uma vantagem enorme para a humanidade que tem a mania de sempre cair na rotina e jogar tudo nesse buraco negro do dia-a-dia.

Em relação à temperatura, por exemplo. Existem banhos frios e banhos quentes. O engraçado é que banhos frios são para dias quentes e banhos quentes para dias frios.

Um paradoxo inigualável, que se completa nessa oposição e resulta numa bela composição temperamental.
O banho frio é capaz de tirar seu suor do corpo. O quente, deixa o suor dele no azulejo. Genial.

Quanto ao tempo. De gato ou demorado. Gato porque gatos se lambem e acham que assim estão de banho tomado. É rápido, prático, mas com certeza, deixa o ar de que faltou alguma coisa.

Este é o problema quando as coisas são muito rápidas: falta algo.

Essa falta, em compensação, acaba sendo totalmente oposta ao exagero do banho demorado. Exagero esse, capaz de demorar tanto que cria rugas.

Sim, banhos demorados deixam dedos enrugados. É a passagem do tempo exposta em apenas um banho. Alguns minutos a mais, você percebe a ação do tempo. Demorou, enrugou.

Continuando com o tempo - mas deixando de lado a questão do tempo do banho - tem o tempo do dia. Banhos podem vir de manhã, tarde, noite ou até madrugada.

Cada um com sua peculiaridade. Acordar, animar, relaxar, ou... Bom, banhos de madrugada devem ter inúmeros motivos, afinal, nem todos passam madrugadas no chuveiro - não é muito comum, já que a maioria das pessoas passa as madrugadas na cama.

Falando em maioria, existe a questão da roupa.

Sei lá, o normal é ela não participar desse evento diário, mas alguns não conseguem se desfazer dela a tempo.

O exemplo mais óbvio e simples é o da piscina: só cair e pronto. Pronto nada, deixar a blusa branca ficar transparente, colar no corpo ou encher de ar - como um balão – e o baita frio depois, completam o quadro. Aí, pronto.

Nessa entram os lugares. Nem todo banho é tomado debaixo do chuveiro. Pode ser dentro da banheira. E aí vêm companheiros. Calma... Podem ser sais aromáticos, espuma, hidromassagem, etc. Verdadeiros companheiros. Ou não.

Também tem o dentro do mar. Este, aliás, é um problema.

Ok. Super divertido, a parte mais legal da praia além do sol (porque areia serve só pra se construir castelos, grudar nos corpos, enterrar os pés, fazer pessoas à milanesa e abrigar carangueijos). O ruim do mar é que ele é muito, mas muito, ciumento.


Só quer você para ele e ele para você.

Depois de entrar, é certeza que vai puxar o seu ser com força ou vai levá-lo para onde sua maré for. Depois de sair, vai deixar sua pele grudenta, seu cabelo, então, nem se fala. Vai marcar presença até na sua boca - dá-lhe o gosto de sal!

Além disso, o mar é tão ciumento quanto possessivo. Como se não bastasse ser habitado por uma galera absurda (galera possessiva também, porque se tiver tubarão, vai querer devorar você), não deixa você não se viciar nele.

Oferece inúmeras atividades - pegar jacaré, surfar, boiar; está aberto para todos, sempre. Chama você de manhã, canta suas ondas à tarde, junta-se às estrelas durante as noites.

Tão possessivo que pega até o Sol e a Lua para ele: pega, e copia. Joga-os nas suas águas, entorta-os.

Apesar deste tipo de banho fazer o possível para agradar a todos, o banho em banheiro não agrada as crianças, por exemplo.

Elas não gostam. Hora do banho é pesadelo. Querem é brincar com os amigos. Certas elas, errados os pais – grandes hipócritas. A partir do momento em que se ensina que banho é uma atividade individual, exclusiva, e restrita somente a ela, perde a graça.

Onde já se viu se isolar de todos só para se melecar com o sabonete e escorregar no chão molhado? Largar a brincadeira para brincar sozinho – criar um mundo de vergonhas. Um mundo chato, uma hora chata. Chata, mas cheirosa.

Foi quando, para se evitar o tédio, inventaram o patinho de borracha. Alguém precisava acompanhar as crianças nesse momento de obrigação e tranformá-lo em algo lúdico.

Não que eu tenha visto muitos patos de borracha por aí. Aliás, tenho a teoria de que eles sejam apenas algo do imaginário coletivo. Algo presente em filmes, apenas. Como um clichê.

Assim como o tal do beijo na chuva: uma raridade. Infelizmente, é só começarem a sentir umas gotinhas caindo do céu, ou umas nuvens pretas o cobrindo, que a maioria das pessoas se encolhem, amontoam-se sob toldos e lajes. Saem correndo, mas não para os braços de alguém para que os beije.

O banho também não precisa ser só de água (a chuva, por exemplo, já virou de canivetes, de dinheiro, de bombas, de balas, de cartas em programas de auditório...).

Pode ser de bebida. Esse gruda tipo o do mar, mas denuncia as atividades etílicas. E deixa a roupa fedida para que todos saibam onde você esteve.

Pode ser de lojas. Amado, adorado, idolatrado –salve, salve-, pelas madames. E um saco para homens ou pessoas impacientes.

Não importa qual tipo, qual tempo, qual ingrediente, qual componente, qual humor, qual companhia.

Banho, é sim, bom. Para parar, pensar, se entregar. Chorar sem ser questionado. Cantar. Cantar para as paredes. Errar a letra. Gritar. Ou até para mandar alguém tomá-lo quando estiver irritando você.

Melhor do que mandar catar coquinho ou plantar bananeira é dizer: “Vai tomar banho!”.

Ou pedir: venha...

5 comentários:

Unknown disse...

*"verdadeiros companheiros..."
Ué, um sal de banho é melhor companheiro do que outra pessoa?? Não entendi, allice!


*E filha, vc tem frequentado mares muito raivosos; os de salvador não são nada ciumentos... eu até me atrevo a dizer que eles são uns amores. O grande vilão por lá é o sol mesmo ¬¬

*e beijar na chuva não é legal.

*"Ou pedir: 'venha'."
adorei!!

Ana Paula Saltão disse...

maaaaaano, eu amei isso aqui, velho! eu olhei assim, isso tudo, com essa cor de letra e falei, meu, a alice só pode tá brincando.. ngm vai ler tudo isso, não! mas eu simplesmente não consegui parar de ler!

tem umas coisas mto boas, adorei! ia comentar sobre elas, mas o melhor ficou pro final e subjulgou todas as outras: ou venha...

genial! ;)

Renata disse...

eu gosto de banho!

Anônimo disse...

adoro suas digressões, doralice!
e sobre o fim, só digo uma coisa: ROAR!
ahahah

Maria Joana disse...

Eles em cima já falaram tudo: muuuito muuito bom. Ah, você já pensou em ser cronista? Olha que dava certo!