segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sol de Lantejoula


Sabia que era apenas uma válvula de escape brasileira - que associada à dupla praia e futebol, tornava-se o "trio-pronto-para-turista" - mas estava com vontade de carnaval.

Cansado da tal rotina, e sabendo que ela devia sentir-se cansada de ser sempre a acusada de ser culpada pelo mal-humor dos mal-humorados (afinal sempre quando uma nuvem negra passa a rondar, culpa-se a rotina e atribui-se a ela o adjetivo "massacrante"), sentia falta de cores e risadas pelas ruas.

Queria sair por aí; ver crianças correndo, satisfeitas com os dias em que jogar água com tinta nos outros era permitido. Queria ver confetes e serpentinas acumulando-se nas sarjetas. Queria ouvir o casal vizinho reencontrando o novo amor - ou reinventando aquilo que os anos desgastara.

Queria ligar a TV e finalmente ter todos a sua volta concordando que "passa sempre a mesma coisa em todos os canais" - algo que embora fosse comum todos os dias, poucos notavam e apenas quando explicitamente eram os sambódromos que estampavam as telas é que se percebia a falta de opções televisivas.

Queria a felicidade mascarada com plumas e adereços. Queria uma fantasia, queria ser quem ele quisesse, sem julgamentos pré-concebidos. Queria seguir a sua vontade, vontade de vida de festa, de ritmos, de brilhos. Queria amar, amor, beijos, corpos. Queria a mulata, os clichês, as lantejoulas.

Estava a ponto de sair do trabalho, largar o computador, pegar uma cerveja e andar a toa, conversando com aqueles que, como ele, também passeavam sem direção pela rua.

Ia sentir o sol de fevereiro batendo no rosto em pleno agosto. Ia olhar as fantasias das meninas, ia fantasiar-se com elas, em uma mistura de encanto e cantos. Ia entrar na roda, ouvir um samba, esquecer dos tais problemas.

Esquecer da mulher, do chefe, da mãe, da tia que também esqueciam dele. Lembrar, apenas, do seu eu, egocentricamente, servindo de reflexo ao país: a toa, feliz, com vontade de nada e de tudo.


Tinha vontade de apenas se deixar levar, seguir o bloco, pular na avenida, cantar, dançar. Sem diferenças ressaltadas. Vontade, somente, de carnaval.

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