domingo, 22 de junho de 2008

Tinta de Limão


Querido amigo secreto (e não digo aqueles que mudam a cada fim de ano e surgem nomeados em um papelzinho) que você sabe muito bem quem é,

Tenho uma coisa muito importante pra falar pra você. Acho que você sabe como funciona a nossa tática secreta de palavras invisíveis. Acho não. Tenho certeza. Você é tão inteligente quanto o Napoleão, papagaio da nossa vizinha que sabe cantar o hino da frança de trás pra frente e de frente pra trás. Sabia que outro dia eu o vi ensaiando o hino nacional? Mas ele se enroscou naquela parte...ai, agora eu não sei se era a parte de que de amor e esperança à terra desce ou se foi na do lábaro espelhado, ou estrelado, e do verde-louro da flâmula. O que é flâmula? Parece o nome de uma flor de pássaro. Ah, aquela parte com palavras difíceis que todo mundo finge que canta, mas ninguém consegue. Sabe? Eu até ia ajudar o coitadinho, mas como você viu, eu também não sei, então achei melhor ficar quieta.

Mas então, silêncio, hein. Ninguém deve saber do que eu vou te contar. É um segredo nosso. Entre mim e você. (olha como eu sou sabedora de falar direito o português! Você prestou atenção que a tia Andréia ensinou que as coisas só podem acontecer entre mim e não entre eu, né?).

Continuando. É mais um segredo - e esse não envolve as nossas descobertas no jardim do Alfredo e muito menos nossas conversas de fim de tarde. Também não envolve aquele vaso da sua vovó que eu quebrei sem querer. Quer dizer, eu te contei do vaso da sua vó Florência? Acho que não. Ah, tudo bem, agora você já está sabendo. E eu peço mil desculpas, porque naquele dia meu coração também ficou em caquinhos e nem deu pra colar com superbonder. Em compensação, eu colei meu dedinho. Lembra? Por isso que eu tava mexendo na cola. Você não percebeu?

Tá. Vão achar que é só uma folha em branco. Uma folha em branco, mas com palavras ácidas escritas especialmente para você. Você, que entende e gosta desse gosto cítrico (cítrico era o que tava dizendo a tv sobre aquele coiso de limão, acho que era o chiclete... e como minha tinta é de limão é também cítrico). Você, que ao contrário de mim, prefere as balas do mentos que são amarelas (e me adoça com todas as rosas).

Antes que eu tenha que cortar outros limãos (ou é limões?), deixe-me dizer logo o que eu vim contar para você. E acabar com essa enrolação. Se bem que eu acho que essa enrolação serve mais para me preparar. Porque eu tenho que tomar fôlego e suco de tangerina com bastante açúcar para isso. É o seguinte. Eu vou falar.

Lembra daquele dia que você estava brincando com o Zé, o filho da dona Lúcia, e o Luísinho? E eu estava com a Bi, a Má, a Lá, a Ká, a Patinha, a Rafa, a Déia e a Ju? E todas nós estávamos pulando amarelinha e corda e cuidando das nossas filhas? Aquele dia que a Má chorou porque a boneca dela tinha caído na lama e sujado o vestidinho, lembra? Aí a Rafa foi lá e brigou com ela porque disse que ela não podia chorar pra não assustar a filha dela? E eu nem sabia o que falar, nem o que fazer porque era um vestido novo o da filha da Má? Aí eu voltei e fui embora e fui pra casa e saí de lá?

Eu até te contei essa história. Lembra? Então.


Ai. Eu falo ou não? Vou falar porque tá acabando o suco e se minha mãe perceber que eu acabei com a limonada ela vai reclamar um montão e eu disse que eu ia falar uma coisa muito importante pra você e que era um segredo. E eu confio em você até que bastante.

Pois é. Naquele dia, eu acho que eu percebi, que eu prefiro muito mais de verdade brincar com você do que com elas. Pronto. Falei. Era isso.

Ass.: Euzinha

4 comentários:

Clara disse...

ai, que fofo, allice!!
hahahahha, adorei a declaração ;p

(mas vc sabe que fica beeem difícil ler com essa cor de letra, né?)

:)

bjux

Alice Agnelli disse...

é que foi escrita com tinta de limão, claire.

(por isso a cor. tem que colocar contra a luz pra enxergar ;)

Renata disse...

Eu nunca escrevi uma carta com tinta de limão.

Pensando bem, acho que eu nunca escrevi uma carta. Em compensação, mandei vários e-mails! (argh.)

Fontes disse...

ops, agora que eu vi!

Fui eu que escrevi isso, dona alice. Acontece que eu estava logado com o e-mail da renata e esqueci. Mil perdões.

Bem, pelo menos vocês agora se conhecem. Virtualmente, pelo menos.