Batera o sinal. Agarrou sua mochila, abriu a porta da sala de aula e saiu corredor à fora, rindo.
- Ei, você não precisa correr! Volta aqui...
Os passos trôpegos a fizeram cair nos braços do menino que a chamava, colega de classe, típico estudante de colégio de classe média - com cabelos lisos caindo sobre os olhos ("Você tem que cortar, garoto! Tá ficando muito... Feio!", dizia), algumas espinhas no rosto e gosto musical duvidoso - que a acompanhava sempre até sua casa, ouvindo-a falar sem parar.
Viraram à esquerda, entraram em outro corredor repleto de salas e armários escolares. O chão verde brilhante, agora, era o caminho para a saída. Nunca vira colégio tão labiríntico quanto aquele ("É para que a gente fique preso para sempre aqui dentro", diziam). Porém, ela nunca se perdera.
Dona de si. Até que era bem independente para sua idade. Sabia o que queria, ou ao menos, pensava que sabia. Difícil influenciá-la. Alguns a achavam teimosa. Ela preferia apenas ser, digamos, difícil de ser convencida.
Seu olhar, por outro lado, perdera-se em meio a tantos outros. Convenceu-se em parar abruptamente. Deixou-se levar. Congelou no de outro rapaz. Simples. Rápido. Em apenas um instante. Os olhos claros se fixaram como flechas nos dela - imãs. Prenderam-se, assim como prendera o tempo, também congelado.
Já havia conversado com ele. Bem mais velho, a ponto de, inclusive, ter o "ar de velho sábio". Não, não. Ar de quem entendia de tudo. Das coisas. Da vida. Das mulheres... Aliás, várias delas se encontravam ao seu redor. Ele, encostado na parede, com a perna em cima de uma cadeira que segurava a porta e várias daquelas meninas-mulheres que mesmo vestidas com o mesmo uniforme branco e azul-marinho que ela, pareciam mais bonitas, lindas, reluzentes. Os cabelos bem arrumados, as peles maquiadas, as unhas pintadas.
Claro, eram bem mais velhas também. Mulheres. É, eram mulheres. Tinham aprendido a se portar como tais, pelo menos. Ela, em compensação, era uma menina que mal sabia ser moça (apesar das tentativas vãs). Se elas se formavam dali a pouco, no ensino médio; ela, no ensino fundamental. Ridícula. Pequena. Nada. Mal podia haver comparação.
Enquanto ela deixava a infância - elas, a adolescência. O que não sabiam, porém, era justamente nesse ponto convergirem: na dificuldade de soltar as respectivas amarras.
Era o último ano em que as veria. Era o último ano em que o veria. Assim. Tão perto. Tão longe. Sabia que o abismo da idade era, apenas, aparente. Dentro de alguns anos já não seria tão assustador. Só ver o exemplo de seus próprios pais: deviam ter uns... 4, 5 anos... Sempre pensava que enquanto seu pai tinha 15, sua mãe, apenas 10. Era uma meninota! E ele, um rapazinho. Nem sonhavam em se encontrar. Imagine só.
Já entre eles... Ora, seriam o quê? Quatro anos? Menos, até. O que são três anos de diferença entre duas pessoas?! Dos 19 para os 22. Dos 31 para os 34. Dos 59 para os 61. E dos 86 para os 89?! Nada... Aquilo não era nada!
Estava ali, rindo nos braços de um com o olhar fixo/parado/imóvel no outro. E ele estava lá. Ouvindo as risadas das outras com o olhar fixo/parado/imóvel em uma.
Sorriram.
E o instante infinito daqueles olhares e daquele sorriso perdurou para sempre na memória dela.
2 comentários:
sorri
tão doce
(me lembrei do colégio também, e das bobas diferenças de idade...)
acho que já passei por isso.
é lindo.
Bom ter você de volta, querida (:
beijos.
Postar um comentário