sexta-feira, 3 de julho de 2009

Açúcar-Cera



Aquece-se o açúcar. Seus grãos se fundem, tornando-se uma pasta. A consistência passa a ser grudenta. O branco, antes, quase transparente; agora, é bege escuro, marrom claro. Se mantido por muito tempo no fogo, endurece, enegrece. O doce, mantido outrora, passa a amargar a boca de quem o prova. Perde seu valor.

Assim como o açúcar na panela para virar caramelo, a vida de algumas mulheres, em plena Beirute, também passa a ser mexida, revirada, movida por acontecimentos externos mas inerentes a suas emoções, a seus mais íntimos sentimentos.

A descoberta de ser a amante, quando se pensava ser exclusivamente amada; o casamento que está por vir, mas a virgindade que já se fora; o amor passível na maturidade, em oposição aos cuidados com a irmã mais velha; a menopausa se aproximando, onde apenas se é rondada por jovens; a homossexualidade, quando o principal assunto são os homens e a vaidade feminina.

Por esses, e outros conflitos, passam as cinco personagens centrais do filme Caramelo, da diretora e também atriz Nadine Labaki.

Em um cenário tipicamente feminino, um salão de beleza - e em meio a tinturas de cabelo, cremes faciais ou maquiagens-, as histórias passam a envolver ora pela doçura, ora pelo sofrimento. Derretem feito açúcar sob nossos olhos, transformam-se, seduzem. Enquanto ao mesmo tempo, trazem a tona a solidão muitas vezes sentida.

Se por um lado, causam o prazer típico do açúcar; por outro, são como a cera usada para depilação: arrancando a dor que há por dentro de cada pessoa.

O caramelo no filme, inclusive, é o ingrediente principal para a depilação. Sendo assim, o doce açúcar é usado para arrancar, dolorosamente, aquilo que não corresponde ao padrão de beleza.

Entre risos, choros, sussurro e gritos, a vida delas, porém, continua. Como a de todos. Doce, mas na medida certa. Sem nunca perder o seu valor. Ou passar do ponto.

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