segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Passado Presente



Algumas vezes o passado nos persegue. Em uma carta inesperada, em um encontro ocasional, em uma despedida. Ele está ali, escondido no presente, em cada lembrança, cada foto revista.

Assim sentia-se o tradutor Rímini: sendo perseguido pelo seu passado, em um eterno conflito entre seu presente e suas memórias - muitas delas, literalmente perdidas.

Após um casamento de 12 anos com sua primeira namorada, Sofía, ele se vê na tentativa de retomar sua vida. Por oras, vida que se confunde com a da ex-mulher - por mais que o objetivo seja perdê-la em outras mulheres.

Sofía, por sua vez, busca reencontrá-lo - incansável, insasiável, aflita. É como um fantasma do que já foi, rondando a tentativa de nova vida do rapaz.

Doentia, muitas vezes a mulher dilacerada surge na trama angustiando cada vez mais o personagem, que também se torna cada vez mais envolto em uma certa ilucidez irremediável.

É como se ele fosse puxado para um passado que não tem fim, e apesar de agarrar-se às bordas do presente, tentando assim escapar, tem uma força maior que o empurra. Uma só mulher.

As outras que aparecem no filme, ainda assim, são tão fortes quando Sofía: Vera, com seu imbatível e paranóico ciúmes. Carmen, madura e serena. Enquanto a primeira traz em sua juventude a insegurança; a segunda parece ser um poço de tranqüilidade, dado, talvez, pela idade um pouco maior que a dos protagonistas.

Vera é intensa, ciumenta. Não agüenta imaginar uma segunda. Mesmo sendo ela, a segunda. Vermelho seria a sua cor. Passional. Assim como sua última cena - ou sua primeira.

Carmen, por sua vez, surge em um encontro de trabalho. Responsável, maternal. Não é a toa que, com Rímini, tem seu primeiro filho: Lúcio. Talvez, uma luz.

No entanto, é Sofía, em um de seus desesperadores momentos de insanidade, que surge. E o que sucede é o seqüestro do menino. Como conseqüencia, Rímini é impedido de ver sua ex-mulher e o garoto.

É o passado, outra vez, puxando-o fortemente. A loucura, o amor, o presente e o passado. Todos complexamente misturados, entre bilhetes de Sofía e pedidos para que ele separe as antigas fotos por ela guardadas até na brusca tentativa dele tentar reaver sua memória da língua francesa e inglesa: já não conseguia traduzir.

Por meio de reviravoltas, Hector Babenco expôs em linguagem cinematográfica o livro de Alan Pauls, O Passado. Em uma co-produção Brasil/Argentina e com roteiro em espanhol, o filme coloca Gael García Bernal e Analía Couceyro no papel do intrigante casal, e confirma o slogan - "A separação também pode ser parte de uma história de amor". Ah! ainda traz, como participação especial, Paulo Autran (falando em françês!). Voilà!

Um comentário:

Felipe Lobo disse...

Parece ser um filme incrível!
E parece que vc se identificou fortemente!
hehehehe