terça-feira, 2 de junho de 2009

B-u-n-d-a.

Esse país é uma bunda. Bonita, redonda, carnavalesca. Diz que aceita as diferenças. Diz que merece respeito. Diz que tem o melhor futebol, o melhor carnaval, o melhor biocombustível do mundo e a melhor população. O povo mais hospitaleiro, mais generoso. As brasileiras são as mais lindas. Nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio mais amores.

Temos uma democracia, o melhor sistema eleitoral. Temos urnas que funcionam, modernas, bonitas, que funcionam! Temos políticos que não se lixam para a opinião pública. Temos políticos que se lixam, mas quem se importa?! Quem se importa para a opinião pública?! Quem tem uma opinião pública? Quem concorda com a opinião do público? O público tem uma opinião?

O público tem alegria! Tem alegria e leite em pó para a criança, que se derrete na escola de latão - que se aventura por rios caudalosos para chegar ao barraco chamado "escola". Escola é aqui, é ali, o país é uma escola! Somos todos alunos, atentos mas que celebram quando o professor falta: aula livre. Liberdade!

Liberdade de se expressar - mas cuidado com o que vai falar. Liberdade de achar e desachar - mas cuidado com o que encontrar. Aliás, melhor não procurar. Espere que alguém procure por você. Com certeza algum otário perderá seu tempo procurando, aí você só joga um charme e já era - achou sem nem procurar. Malandrão.

É o pato? Nada. Pato é quem paga. O pato. Nós pagamos, mas nem vem cobrar juros que aí o que você terá é calote. Assim mesmo. Ah, não vai acontecer nada mesmo... Mesmice.

Mudam-se os tempos, mudam-se as pessoas. Mudam nada. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Não, não diga isso! Temos que contradizê-los, rebelarmos, fazer valer a força da juventude, essa garra, energia que transbordamos. Vamos mudar, mudaremos. Assim como tá não dá. Dá? Deu. Deu-deu, não, vai dando. Sempre com jeitinho.

Mas faz o seguinte: a gente finge que não tá satisfeito e reclama, tá? Aí a gente reclama de tudo. Do vaso, da vida, da vizinha, do vidro. Da sopa, da sola, do soco na boca. Do amigo, inimigo, arquinimigo. Afinal, quem é amigo mesmo? É mesmo? Então prova. Prova que nesse mundo só acredito vendo.

Já vi coisas de menos, quero ver coisas demais então comece provando sua tese para que eu depois reprove, questione, não entenda e continue achando que não foi provado. Não vou ouvir o que você disse, porque sei que estou certo.

Certo dia tudo pareceu certo. Foi horrível. As coisas não têm que estar certas. As coisas tem que estar errada. A criança tá morrendo de fome na África! E do lado de casa?! Também! Você viu? Não!

Não quero lhe falar das coisas que aprendi nos discos. De nada valem. O que vale é que estamos aqui, firmes e fortes na parada. Para o que der e vier. Reclamando para não perder o costume. Fazendo alguma coisa? Reclamando, oras. Reclamar não basta?

Esse país é uma bunda mesmo.

3 comentários:

Xenya Bucchioni disse...

Oi Alice..é a irmã do Tulio, tudo jóia? rs
Gostei bastante do seu texto..é sempre bom lembrar que muitas coisas continuam iguais, principalmente em tempos onde as tecnologiads são vendidas com a ideia de progresso e, principalmente, o "mundo digital" como algo "novo", inusitado...as formas mudaram, mas e o conteúdo? A tecnologia não é boa nem má, tudo depende de como as usamos...mas as vezes tudo vira mesmo uma bunda bonita no orkut.rs

Felipe M. Ferreira disse...

Alice, você tem de pagar royalties ao Hermes e Renato.

Felipe Lobo disse...

Muito bom, lice! Palavras na dose certa, mas tão boas, que dá vontade de se embebedar.