sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Elementos

- Andréia!

Me chamaram. Vi os dois deitados na grama, brincando com a cachorra. Ou melhor, estavam os três deitados no chão: eles e a cachorra. Felizes. Deitei no verde. Terra. Estendi minha mão. Acariciei o pelo macio, bege, lindo. Brilhante, ela brilhava de alegria. Ofegante. Eles não falavam nada.


Encostei minha cabeça nas costas de Pedro. Olhei para o céu. Estava estupidamente azul. Isso mesmo que pensei. "Estupidamente azul". Estava quente. E não gelado, como o estupidamente faz lembrar. Estupidamente gelada.

Calma. Senti uma tranquilidade imensa invadir meu corpo. Minha cabeça, meu peito, minhas pernas, eram tudo calmaria. Todos meus membros estavam feitos de ar. Minha mente flutuava.

Ao longe, bem ao fim do céu - se é que isso pode ser dito - uma nuvem branca surgia, grande, vindo em minha direção. Vindo em nossas direções. A cachorra percebeu, sentou-se, ficou olhando.

- Parece um porquinho-da-índia. Aquele que ganhei quando tinha seis anos, que só queria estar debaixo do fogão.

- Parece minha primeira namorada.

- Pensei ser eu sua primeira namorada, Alexandre.

- Não, Déia, você é a minha primeira namorada. Ele já teve várias.

- Agora está parecendo um coelho.

- Pra mim é uma águia.

- Uma lagosta!


- Nuvens só se parecem com animais?


Beijei-os.

Senti um pingo em minha testa. A cachorra levantou-se, saiu, deixou-nos sozinhos. Deve ter pensado que estava sobrando. Estava mesmo. Sem contar que para ela, uma nuvem deveria ser apenas uma nuvem.

Choveu. Choveu como nunca chovera. Agora eu era água. Encharcada. Do cabelo aos pés. Eles também, estavam empapados.

Entramos. Nos secamos, nos esquentamos. O tempo virou. A chuva trouxe o frio, mas cada vez ficávamos mais quentes. Fogo.

Terra.

Ar.
Água.
Fogo.

Estávamos completos. E éramos apenas três.

(Ok, quatro, se considerarmos a cachorra.)

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