sábado, 3 de janeiro de 2009

Livros e Vendedores

O livro era aquele: Stardust. Quando o viu pela estante, na hora, pensou que seria o presente ideal para ele.

Há tempos que tinham conversado sobre Sandman e os quadrinhos de Neil Gaiman. E ele perguntado a ela sobre a outra história do autor, aquela em que as pessoas passam através de uma fenda e chegam em outro mundo.

- Stardust?

- Esse mesmo. Então eu só vi o filme, você já leu?

- Li, sim.

Entrou na livraria, procurou uma vendedora e pediu.

- Então, sabe, é que eu vou comprar pro meu namorado... É presente de Natal. Você viu a chuva que está lá fora? Vim a pé e me molhei inteira. Olha o que eu não faço por ele...

- Sério? E desde quando vocês namoram? - perguntou a vendedora enquanto indicava a estante de auto-ajuda para uma cliente de cabelos desgrenhados e ia em direção ao caixa. - Olha, pode pagar aqui, que eu já embrulharei para presente.

- Na verdade... Ah, obrigada.

Reparou que a moça nem havia esperado a reposta do tempo de namoro. Não fazia questão. A loja estava movimentadíssima, o que impedia uma vendedora curiosa de saber sobre os relacionamentos amorosos de suas clientes e demonstrava que as pessoas aumentavam as compras de livros - mesmo em momentos de crise (talvez para isso sirvam as crises, para deixá-las em casa munidas de bons livros enquanto não passa). Pagou, e foi direto retirar a embalagem.

- Aqui está. Então, você não me respondeu, há quanto tempo estão juntos?

- Faz pouco tempo. Pouquíssimo, aliás. Quero dizer, juntos estamos há muito tempo... Uns dois anos, até. Mas namoro-namoro, só agora.

- Nossa, bacana. Qualquer dia vem para cá com ele, para que ele conte se gostou do presente. E espero que não esteja chovendo!

Pouco tempo... Saiu da loja pensando em como ela era precipitada. Eles demoraram tanto para se definir que foi só decidirem namorar para ela sair comprando presente? Ah, não tem importância. Ele vai gostar.

Se encontraram na mesma noite, e o presente ficou na bolsa. Depois, no fim de semana, saíram. O presente, na bolsa. Vários dias se passaram, o Natal passou e o presente... na bolsa. O presente se foi, chegou-se ao futuro, virou passado e o presente? Na bolsa.

- Você comprou e nem vai dar? - diziam as amigas. - Deixa de ser besta, entrega logo o livro pra ele!

Não entregou. Passou o réveillon, viu que o Natal já estava longe, e a chance mais longe ainda - perdera-se no tempo. Ele não dera nada para ela. Ela também não ia dar. Imagine o que ele ia pensar? Que era uma doida, louca, apaixonada...

Decidiu trocar: há dias via uns livros que queria. Aliás, encontrar livros que queria não era difícil para ela.

- Ai, espero que não encontre a vendedora. Pensa, ela me pergunta do namorado e eu venho dizendo que vim trocar o livro?

- É só você dizer que ele não gostou... - disse a amiga que a acompanhava.

- Eu sei, mas sabe, sei lá.

Com os livros escolhidos, foi em direção ao caixa.

- Então, você antes tem que passar por um vendedor...

Se dirigiu a uma funcionária da loja que disse a mesma coisa e completou com "aqui é o caixa". Encontrou um vendedor. O livro, perdido na imensidão de sua bolsa, quase não saía. Estava acostumado com a escuridão. Nervosa, entregou o pacote, ainda embrulhado.

- Ai, olha só, está até no embrulho...

- Você tem cadastro na loja?

- Não, pode usar pelo da minha mãe. Ela que me deu, aliás.

Pronto. Inventara a desculpa que a mãe comprara e agora a filha devolvera. Esperava não encontrar a vendedora. Não podia encontrar a vendedora. Foi ao caixa, guiada pelo rapaz.

Lá não pôde realizar a troca. Algo dera errado. O moço do caixa chamou o seu superior, que perguntou se ela sabia qual vendedor a havia atendido. Não sabia, mas poderia identificá-lo facilmente.

O superior a acompanhou pela loja até que encontraram o vendedor. Sorte que não encontraram a vendedora. Ele tentou resolver o problema, mas nada. Chamou a gerente. Era gerente aquela mulher? Não sabia. Mas tinha um ar de irritada e resolvedora de problemas. Nada. Chamaram o CDB. Sejá lá o que isso seja. Nada também.

- Colocou o código certo? Imprimiu a nota? Não imprimiu? É problema da impressora? Você fez o procedimento adequado? Quem comprou esse livro? E vai trocar também? Por quê?

5 pessoas já haviam irtervido. Era a hora da vendedora aparecer. Mas se aparecesse, a história de que a mãe dera os quadrinhos para a filha ia por água abaixo. "Ah, sabe, eu que comprei mesmo, para dar para meu namorado, mas fiquei com vergonha de dizer para vocês que eu tive vergonha de entregar o livro para ele". Iam pensar que ela era uma envergonhada! Não podia acontecer.

Minutos se passaram dentro da loja. A amiga, pacientemente, observava tudo que acontecia. Uma senhora, perdida entre as estantes, brigava no celular. Um bebê chorava loucamente. Os funcionários, em polvorosa, tentavam resolver o problema da troca introcável. E uma música clássica ao fundo. Plena sintonia.

- Renata Cury. Cadê ela?

"Não pode ser a vendedora, ai meu Deus, que não seja a vendedora", pensava a menina.

- Quem é essa mulher? Você jogou os créditos para a Renata Cury! Por isso é que ela não consegue trocar! Pronto, agora está feito. Você tem cadastro na loja, né? Porque senão, dará problema no caixa. Não tem? Então faça. E desculpe todo esse transtorno. Tchau, queridas.

Problema resolvido, cadastro feito e uma certeza: da próxima vez seria menos precipitada. Ou então, deixaria a vergonha de lado. E passaria a contar menos da vida para vendedoras.

3 comentários:

Anônimo disse...

dose certa!

Maria Joana disse...

vou repensar os presentes dados a namorados depois dessa. XD
saudade

Felipe Lobo disse...

ah, ams conversar com vendedores é divertido! hehehe