Harold é um jovem de 19 anos, que vive encenando formas de morrer para chamar a atenção de sua mãe. Esta, por sua vez, está sempre ocupada - e nos últimos dias sua maior preocupação é encontrar uma moça para se casar com o filho.
Maudi é uma excêntrica velhinha que mora em uma casa repleta de quinquilharias "emprestadas". Nada a pertence - apenas a data de sua morte e um imenso amor pela vida.

Ambos são personagens de Ensina-me a viver, de Colin Higgins, agora em temporada popular (R$ 15 a meia) no Teatro das Artes. A obra é uma adaptação do filme homônimo, sucesso nos anos 70 e tem direção de João Falcão. Ela estreiou em São Paulo em 2007 e no ano seguinte ganhou o Prêmio APTR em Melhor Produção.
Com uma trilha sonora descolada (que inclui Beirut, por exemplo), a peça é um prato cheio para os olhos e, porque não (perdoem-me pelo clichê), para a alma. Seus efeitos luminosos, sua cenografia quase onírica, seu roteiro repleto de frases simples mas profundas e suas atuações incríveis a enchem de momentos encantadores. Daqueles que são capazes de colocar um doce sorriso junto a uma pequena lágrima no rosto da plateia.
Sombra e luz. Velho e novo. Morte e vida. Dicotomia. Ela, que permeia toda a obra, é o que explica a atração de Harold, interpretado por Arlindo Lopez, por Maudi, vivida por Glória Menezes. Afinal, enquanto um já havia morrido 17 vezes - logo em sua primeira cena aparece enforcado - não encontrando sentido em viver; a outra sabe que a morte se aproxima, então aproveita ao máximo os dias que lhe restam. Máximo com o mínimo. Poesia.
- Vale a pena, eu garanto - diz Maudi, sobre a vida.
Digo o mesmo sobre a peça.